quarta-feira, janeiro 24, 2007

Praia do Tofo



para a Marília, in memoriam



E ressurgirá das águas, como o pássaro
Do Bhagavad-Guitá, seu riso de pura alegria,
A das árvores que sobem e buscam o fruto mais alto,
depois dos ramos;

Adornada de limos e seixos e de pedrinhas,
As mil capulanas soltas ao vento,
Da inteira absorta beleza de seus peixes,
Ò desnuda sobre as areias,
Marília do longo mar e das viagens,
À tua praia chegada!



Luís Carlos Patraquim



Para ti, Alex, que aí encontraste o sorriso de pura alegria.
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domingo, janeiro 21, 2007

Da voz das coisas




Só a rajada de vento
dá o som lírico
às pás do moínho.

Somente as coisas tocadas
pelo amor das outras
têm voz.


Fiama Hasse Pais Brandão
(1938- 2007)


Porque a voz da Poesia é imortal.

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domingo, janeiro 14, 2007

Para ti, Jota





Há palavras que nos beijam
Como se tivessem boca.
Palavras de amor, de esperança,
De imenso amor, de esperança louca.

Palavras nuas que beijas
Quando a noite perde o rosto;
Palavras que se recusam
Aos muros do teu desgosto.

De repente coloridas
Entre palavras sem cor,
Esperadas, inesperadas
Como a poesia ou o amor.

(O nome de quem se ama
Letra a letra revelado
No mármore distraído
No papel abandonado)

Palavras que nos transportam
Aonde a noite é mais forte,
Ao silêncio dos amantes
Abraçados contra a morte.


Alexandre O'Neill



Como homenagem a mais um amigo que partiu.
A ti, que me ajudaste a ver a beleza das palavras que salvam... como a Poesia e a Amizade.
Até sempre, Poeta.

terça-feira, janeiro 09, 2007

A estrada branca





Atravessei contigo a minuciosa tarde
deste-me a tua mão, a vida parecia
difícil de estabelecer
acima do muro alto
folhas tremiam
ao invisível peso mais forte.
Podia morrer por uma só dessas coisas
que trazemos sem que possam ser ditas:
astros cruzam-se numa velocidade que apavora
inamovíveis glaciares por fim se deslocam
e na única forma que tem de acompanhar-te
o meu coração bate.



José Tolentino de Mendonça
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quarta-feira, janeiro 03, 2007

As areias das praias

Foto de João Pedro aqui



Desenha, sobre um mapa onde as ilhas possam flutuar
e as brancas penínsulas se abandonem às aves,
a incerteza do maior amor ou a tranquila

oscilação dos barcos nas enseadas onde o Inverno
pode adormecer. Na solidão, na noite, não demores
o tempo entre os anéis, os dedos tocam sempre
esses despojos de antigas navegações.

Por isso, nas horas tranquilas , entre as falésias,
dedico-me a essa ocupação de recolher o que as marés
trazem às praias, como se fosse ao coração.


Francisco José Viegas

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