terça-feira, fevereiro 26, 2008

Paul Simon and Art Garfunkel - The Sounds of Silence Lyrics

Quando a O'Sanji, do blog Plan(o)alto, me passou o desafio com o título "Regresso ao Passado", foi esta música que, de imediato, recordei.

Não sendo, exactamente, o que se pedia, aqui vos deixo um pouco das memórias do meu passado.

"The vision that was planted in my brain
Still remains"

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sábado, fevereiro 23, 2008

A propósito de estrelas



Não sei se me interessei pelo rapaz
por ele se interessar por estrelas
se me interessei por estrelas por me interessar
pelo rapaz hoje quando penso no rapaz
penso em estrelas e quando penso em estrelas
penso no rapaz como me parece que me vou ocupar com as estrelas
até ao fim dos meus dias parece-me que
não vou deixar de me interessar pelo rapaz
até ao fim dos meus dias
nunca saberei se me interesso por estrelas
se me interesso por um rapaz que se interessa
por estrelas já não me lembro
se vi primeiro as estrelas
se vi primeiro o rapaz se quando vi o rapaz vi as estrelas




Adília Lopes
(in Um jogo bastante perigoso)



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domingo, fevereiro 17, 2008

O meu amor não cabe num poema

Pintura de Cristina Ataíde


O meu amor não cabe num poema - há coisas assim,
que não se rendem à geometria deste mundo;
são como corpos desencontrados da sua arquitectura
ou quartos que os gestos não preenchem.

O meu amor é maior que as palavras; e daí inútil
a agitação dos dedos na intimidade do texto -
a página não ilustra o zelo do farol que agasalha as baías
nem a candura da mão que protege a chama que estremece.

O meu amor não se deixa dizer - é um formigueiro
que acode aos lábios como a urgência de um beijo
ou a matéria efervescente dos segredos; a combustão
laboriosa que evoca, à flor da pele, vestígios
de uma explosão exemplar: a cratera que um corpo,
ao levantar-se, deixa para sempre na vizinhança de outro corpo.

O meu amor anda por dentro do silêncio a formular loucuras
com a nudez do teu nome - é um fantasma que estrebucha
no dédalo das veias e sangra quando o encerram em metáforas.
Um verso que o vestisse definharia sob a roupa
como o esqueleto de uma palavra morta. Nenhum poema
podia ser o chão da sua casa.


Maria do Rosário Pedreira
(in O Canto do Vento nos Ciprestes)

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quinta-feira, fevereiro 14, 2008

Reflexos



Olho-te pelo reflexo
do vidro
e o coração da noite

E o meu desejo de ti
são lágrimas por dentro,
tão doídas e fundas
que se não fosse:

____ o tempo de viver;
____ e a gente em social desencontrado;
____ e se tivesse a força;
____ e a janela ao meu lado
____ fosse alta e oportuna,

invadia de amor o teu reflexo
e em estilhaços de vidro
mergulhava em ti


Ana Luísa Amaral
(in Coisas de Partir)

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segunda-feira, fevereiro 11, 2008

Encosta do Mar


Fez, no dia 8, três anos, que entrei nesta Encosta.
Todas as manhãs me faço ao mar, navegando entre destroços, que procuro esquecer.
Estes têm sido os meus dias , tingidos de mágoa, ou coloridos de esperança, na incessante busca da paz.
Por aqui me abrigo, enquanto não chega o momento do abraço definitivo, em que mergulharei num mar de Luz.
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A todos quantos me acompanham , o meu agradecimento, por me fazerem acreditar.
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terça-feira, fevereiro 05, 2008

Talismã



Ofereces-me uma pedra negra mágica que trazes do norte
e as minhas palavras e as minhas mãos detêm-se sem saber
por quanto tempo irão ficar na soleira da noite e do dia
tacteamos os corpos em busca de memórias adormecidas
ocultas por sucessivas camadas de palavras por dizer
deslizamos para o chão sem resposta e o fumo sobe
equilibra-se em nuvem sobre as nossas cabeças e evola-se
em direcção a uma lua vermelha momentaneamente apagada
ao som de bob marley fazes as malas e partes e eu fico
a arrumar as minhas mãos e as palavras atrapalhadas
no fumo desorientado pela ausência de um ponto cardeal
junto cuidadosamente os teus cabelos rubros perdidos
entranço uma bola de fogo e guardo-a na memória
acendo uma dúzia de paus de incenso e imagino uma igreja
de adoradores do silêncio que escorre por entre as preces
a tua pedra negra regressa à minha mão fechada
e ilumina como um sol a minha noite em claro
virás por uma palavra?



Carlos Alberto Machado

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sexta-feira, fevereiro 01, 2008

Um tal Fernando Assis Pacheco


Vivo com ele há anos suficientes
para poder dizer que o reconheceria
num dia de Novembro no meio da bruma
é como uma pessoa de família

adorava os pais mas tinha medo
quando zangados se punham aos gritos
e se chamavam nomes odiosos
não invento nada vi-o crescer comigo

chorava então desabaladamente
e eu com ele sentindo-nos perdidos
o coberto puxado sobre a cabeça
seria trágico se não fosse ridículo

mesmo depois a noite que urinasse
no pijama era um protesto civil
encharcou assim grande parte das Beiras
não lhe perguntem se foi feliz


Fernando Assis Pacheco
(in Respiração assistida)



Lembrando o poeta nascido a 1 de Fevereiro de 1937 e que morreu subitamente à porta de uma livraria em 1995.
Se eu fosse poeta, gostava de, um dia, morrer assim.

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