sexta-feira, agosto 29, 2008

Deita-te aqui comigo

Henri Matisse (Nu couché de dos)



Deita-te aqui comigo de olhos fechados
e de palavras ancoradas
quero que percebas que no mais fundo
e secreto de mim há negrume e silêncio
e como daí - do negrume e do silêncio -
podem nascer as cores e renovar-se a alma
basta que
te deites aqui comigo resumindo a noite
como quando se dorme





Cláudia Caetano

( Tempo Dual )

.

terça-feira, agosto 26, 2008

Sentido único

Gustav Klimt (detalhe de Water Serpents)



A tua boca existe dentro dos meus olhos.
A tua pele existe dentro do meu olfacto.
O teu cheiro existe dentro dos meus ouvidos.
A tua voz sabe-me a mim.



Carla de Elsinore

( encontrado no blogue Welcome to Elsinore , cuja suspensão espero seja breve.

.

terça-feira, agosto 19, 2008

O rio atravessou a tua face




O rio atravessou a tua face
e não levou com ele
essa doçura triste que exaspera
os homens solitários.

Não sei se alguém te teve nas estrelas,
sei que o merecerias
se ter-te assim pudesse ser real.



nd
(Nuno Dempster?)

( encontrado no blogue As Musas Esqueléticas, agora lamentavelmente encerrado)



.

sexta-feira, agosto 15, 2008

Oração



Senhora nossa,
Senhora deste reino e deste assombro,
guardai
no vosso alto regaço de luminosas rosas
aquele
cuja fé e cujo alento a vida destroçou.

Livrai-nos, Senhora nossa,
da hiena e do tigre e das nêsperas que
trazem a morte aos quintais,
debaixo da janela onde o corvo pousa e
volta sempre,
como um sinal de pranto ou uma maldição.



(in Biografia)



Nascido no Funchal a 15 de Agosto, o poeta completa hoje 60 anos.


.

quarta-feira, agosto 13, 2008

Só no sonho...


Foto de Marie-Ancolie


Só no sonho os meus dias se consentem
A um nome se reduz
esta ânsia de ser
presença viva do meu gesto outrora

Eu não sei de outro nome para a ternura




Amélia Pais



.

domingo, agosto 10, 2008

vogais de água

Foto de Gaylen Morgan



há lugares onde chegam vogais de água
lugares novos espantados que assomam à memória
por redes vertiginosas

as suas entoações concentram-se em palavras fabulosas
palavras luminosas sur-
preendidas pelos castiçais dos ii

um projecto de água

digo:

transportar o sonho de um lado para o outro
abrir com toda a força um buraco nos espelhos



Maria Azenha
(in A Chuva nos Espelhos)



Só uma artista como Maria Azenha poderia criar um lugar de água assim, onde a escrita de luz se une a imagens de beleza ímpar. Abrimos a porta e... o mar atinge-nos.


.

quinta-feira, agosto 07, 2008

Contextos e humores

Foto de Oito Luz aqui



Escrevo em verso a vida,
vários contextos e humores,
falando de nós e de mim.
Numa sociedade esquecida,
em que se repetem as dores
de tempos pretéritos assim...

E porque o mundo chora
em todos os continentes
e por múltiplas razões...
sabei que só existe o agora,
para fazer as coisas diferentes,
passado e futuro são ilusões...




Daniel Aladiah
(in A Arca do Anjo)




Um abraço para ti, Daniel , que acreditas que "só o amor justifica a vida" e o escreves em verso.

.

segunda-feira, agosto 04, 2008

Anátema

Rooms by the sea (Edward Hopper)



Estou preso mas não parece
Desta poesia que me não liberta
Mas mesmo preso vejo o mundo inteiro
Tenho a porta do mundo bem aberta

Que enigma é este de ser prisioneiro
Do fascínio a que me converti?
Ah! Como é cativante este cativeiro!...
Que o meu ser essencial se perca em ti!...




Albino Santos Oliveira
(in Gotas de Luz)



Segundo as suas próprias palavras... o sonho é a vida.
"Madrugada sem fronteiras" e "Quem sabe, amanhã será primavera!..." são dois sonhos que Albino Santos do Poliedro irá concretizar muito em breve.
Parabéns, amigo, e que a poesia nunca te liberte.


.

sexta-feira, agosto 01, 2008

Acento






Vem dos montes friíssimos da Noruega
onde te sonhei para beberes estrelas
e caminhar a custo entre as cascatas
onde a ternura é um escadote
e o ar um caracol de planetas nas órbitas



António Maria Lisboa
(in Poesia de António Maria Lisboa - Assírio e Alvim)



A poesia perpetua até aqueles para quem a vida foi breve.
António Maria Lisboa nasceu a 1 de Agosto de 1928 e morreu com apenas 25 anos. Foi, com Mário Cesariny de Vasconcelos, um dos representantes e fundadores do surrealismo nacional.


.