segunda-feira, abril 27, 2009

Jacques Loussier - Air on the G String

.
"Não sou um músico de jazz, interpreto Bach através do jazz e de outras linguagens não clássicas"
Jacques Loussier

O que é certo é que Jacques Loussier, 50 anos depois do lançamento do primeiro Play Bach, continua a surpreender e a fascinar, tal como aconteceu sábado passado no seu concerto nos Dias da Música, no Centro Cultural de Belém.

Sobre ele comentou Glenn Gould : " Play Bach é uma boa forma de ouvir Bach". Eu concordo, e como eu, os milhares de pessoas presentes no espectáculo, que, no final, lhe dedicaram uma fabulosa ovação.

.

quarta-feira, abril 22, 2009

Em estado puro



Numa das esculturas de Giacometti, tocadas ainda de fogo, um homem caminha, em movimento solitário e eterno. Não sabemos se entra, se sai da morte, mas conseguimos reconhecer, na nobreza do cobre, a própria condição humana. Como benção ou danação, o escultor devolve-nos a vida em estado puro.

Viver é também isso. Percorrer um campo de anémonas, quase com vergonha do que trazemos escondido, na mão.



Mário Rui de Oliveira
(in O Vento da Noite)

.

sábado, abril 18, 2009

Existe em nós

Foto de Michel B-M aqui



Existe em nós
um sentido especial para a poesia,
uma disposição poética.
A poesia é absolutamente pessoal,
e por isso indefinível.
Quem não souber nem sentir
de forma imediata
o que é a poesia,
nunca poderá aprendê-lo.
Poesia é poesia.
Diferente, como a noite do dia,
da arte da fala e da palavra.




Novalis
(in Fragmentos)
Tradução de João Barrento

********************************
Porque concordo em absoluto, e pela forma poética como está escrito, deixo aqui um comentário feito ao post anterior :
"O Mar atinge-nos" de Maria Azenha é a voz urbana do mar, eco das grandes ausências na geografia dos náufragos em cidades de betão. É a viagem das guitarras pela voz. É a palavra que corre e canta a memória mais alta da poesia Lusitana"
.

terça-feira, abril 14, 2009

Soubesse eu

Soubesse eu ... dizer como a poesia de Maria Azenha me atinge !

quarta-feira, abril 08, 2009

... Nada ser




nada sou!
e contudo, sou.

sou, porque tu és,
porque fazes com que seja.

vamos dar asas ao desejo,
explorar o lugar onde o tempo pára
ou atravessar a pálida névoa
no cosmos das águas tranquilas,
onde reside o verbo,
onde o espírito se aquece
e a alma se refresca.

vamos dar asas ao desejo,
mergulhar no impulso do inúmero
ou calcorrear as cascatas do céu
no infindo das terras sagradas,
onde tudo é harmonia,
onde se vê o incomensurável
e se sente o improvável.

sim, vamos dar asas ao desejo!
deixar que ele nos leve à génese do ser
e ser qualquer nudez na fluidez do nada.

se nada sou
e mesmo assim sou,
deixa-me Nada permanecer
e contigo apenas Ser.


Vicente Ferreira da Silva
(Do Inatingivel )



Parabéns, Vicente, pelo lançamento de mais um livro. Foi bom estar presente ... a poesia liga as pessoas com elos luminosos.

Para todos os que visitam a Encosta do Mar, deixo os meus votos de uma Boa Páscoa.

.

sábado, abril 04, 2009

Conhecimento maduro


Desenho de Almada Negreiros




Passa-se com os livros uma coisa semelhante ao que sucede com um novo conhecimento que travamos com alguém. Num primeiro momento experimentamos um profundo prazer em encontrar coincidências gerais de opinião ou ao sentirmo-nos tocados num aspecto importante da nossa existência. Só depois , quando o conhecimento se aprofunda, começam a surgir as diferenças. Nessa altura o comportamento inteligente caracteriza-se pela capacidade de não retroceder imediatamente, como muitas vezes acontece na juventude, e de, pelo contrário, reter o que há de coincidente, enquanto se vão esclarecendo mutuamente todas as diferenças, sem se pretender chegar a acordo absoluto.


Goethe
(in Máximas e Reflexões)

Texto encontrado em Ao Longe os Barcos de Flores .
.