sábado, junho 27, 2009

Pranto para comover Jonathan

Foto de Miguel Costa



Os diamantes são indestrutíveis?
Mais é o meu amor.
O mar é imenso?
Meu amor é maior,
mais belo sem ornamentos
do que um campo de flores.
Mais triste do que a morte,
mais desesperançado
do que a onda batendo no rochedo,
mais tenaz que o rochedo.
Ama e nem sabe mais o que ama.



Adélia Prado

(de O Pelicano ,
in Com Licença Poética- Antologia)


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quarta-feira, junho 24, 2009

Não me importa o amor que tenhas

Foto de Margarida Delgado



não me importa o amor que tenhas
e o amor não se dá nem tem nada para dar
as tuas mãos nas minhas são o tempo que volta
a mover sombras de nanquim, e nos teus lábios
é o sabor a tinta que me atrai.
Ebbro d'inchiostro é mais bonito, quando
ao calor de agosto as bocas se desatam
e as línguas mordem a brancura do linho.




António Franco Alexandre
( in Quatro caprichos)


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sábado, junho 20, 2009

O que me dói

Foto de Kregon aqui


O que me dói não é
O que há no coração
Mas essas coisas lindas
Que nunca existirão ...

São as formas sem forma
Que passam sem que a dor
As possa conhecer
Ou as sonhar o amor.

São como se a tristeza
Fosse árvore e, uma a uma,
Caíssem suas folhas
Entre o vestígio e a bruma.



Fernando Pessoa
(in Cancioneiro)

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quarta-feira, junho 17, 2009

Camané "Sei de um Rio"



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Meu amor, dá-me os teus lábios!
Dá-me os lábios desse rio
Que nasceu da minha sede!
Mas o sonho continua

E a minha boca (até quando?)
Ao separar-se da tua
Vai repetindo e lembrando
Sei de um rio
Sei de um rio

Sei de um rio
Ai !
Até quando?


Poema de Pedro Homem de Mello



Foi com este tema que se iniciaram os concertos realizados esta semana no CCB , " Carta Branca a Camané".
Na sequência de um convite que lhe foi feito, o fadista concebeu uma apresentação de características únicas, onde se conjugou a linguagem do Fado, o piano de Mário Laginha e a sonoridade da Orquestra Metropolitana de Lisboa.

Um desafio vencido!

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sábado, junho 13, 2009

Vós, que de olhos suaves e serenos

Leda ( Leonardo da Vinci )


Vós, que de olhos suaves e serenos,
Com justa causa a vida cativais,
E que os outros condenais
Por indevidos, baixos e pequenos;

Se ainda do Amor domésticos venenos
Nunca provastes, quero que saibais
Que é tanto mais o amor depois que amais,
Quanto são mais as cousas de ser menos.

E não cuide ninguém que algum defeito
Quando na cousa amada se apresenta,
Possa diminuir o amor perfeito;

Antes o dobra mais; e se atormenta,
Pouco e pouco o desculpa o brando peito:
Que Amor com seus contrários se acrescenta.




Luís de Camões
(in Sonetos de Luís de Camões ,
escolhidos por Eugénio de Andrade,
Assírio & Alvim, 2002)


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terça-feira, junho 09, 2009

Sobre o lado esquerdo




De vez em quando a insónia vibra com a nitidez dos sinos, dos cristais. E então, das duas uma : partem-se ou não se partem as cordas tensas da sua harpa insuportável.

No segundo caso, o homem que não dorme pensa:
" o melhor é voltar-me para o lado esquerdo e assim, deslocando todo o peso do sangue sobre a metade mais gasta do meu corpo, esmagar o coração".



Carlos de Oliveira
(in Trabalho Poético)


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sábado, junho 06, 2009

Voltar

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O tema Voltar de Rodrigo Leão, do post anterior, não pertence ao novo álbum ontem lançado, mas sim ao cd " O Mundo " editado em 2006.

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Rodrigo Leão -"Voltar"


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Quanto eu não daria
Para poder voltar atrás
Volta pro meu peito
Daqui não saias mais

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A melancolia da música de Rodrigo Leão voltou a estar presente, ontem à noite, no lançamento do seu novo álbum , " A Mãe".
Para ouvir e gostar sempre.

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