sábado, agosto 29, 2009

Génese




Fotos tiradas na Praia do Tofo ( Moçambique)



Foi assim
Todo o mar que eu via
se precipitou logo no meu coração
que é de sal

E os peixes cristalizaram
com os olhos mortos
para as suas manhãs refractadas

Escutando bem
ouve-se como ao pé das estátuas
música de uma fanada melancolia



Sebastião Alba
(in A Noite Dividida)


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sexta-feira, agosto 21, 2009

Regresso



Um mundo que fica para trás. Rios, machambas, savanas, palmares, os grandes espaços, os largos horizontes, e uma árvore que crescia nos sonhos e chegava ao céu - que sabem eles disso, que podem eles compreender?
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Lugares onde se fala uma língua mestiçada, em que a gramática rebenta porque o pensamento acontece de outro modo e tem de ser livre de acontecer, que sabem eles disso, que sabem eles disso?
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Não desistas nunca, digo-lhe também. Não desistas nunca.
E é um ponto final numa conversa. Porque agora os caminhos se afastam. Depois de termos, desde sempre, partilhado quase tudo.
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À porta volto-me para trás e aceno. Mas não o vejo porque os meus olhos têm chuva e a noite desceu de repente. Como uma pálpebra caindo.




Teolinda Gersão
(in A árvore das palavras)
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Dizem que são 8000 quilómetros e, na realidade, tudo parece já muito distante.
No entanto, quando fecho os olhos todas as sensações reaparecem. Primeiro - o mar . A cor indefinida entre azul e verde, a música das ondas a desfazerem-se em espuma que chegava até aquele banco sobre o Índico. Praias criadas só para mim, de areia tão branca e água tépida.
Reaparece a cor dos poentes de fogo, o perfil dos coqueiros, o vermelho da terra.
Acima de tudo , volto a ver o teu sorriso azul, a liberdade que se reflecte no teu olhar, a determinação com que tranformas dificuldades em sucessos.
E o mar, sempre o mar!
Volto-me, então para trás e digo-te:
-Não desistas, Alex! Nunca deixes de fazer crescer essa árvore dos sonhos que atinge o céu!
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