domingo, agosto 28, 2011

Tarde

Foto de Marc Adamus


A tarde trabalhava
sem rumor
no âmbito feliz das suas nuvens,
conjugava
cintilações e frémitos,
rimava
as ténues vibrações
do mundo,
quando vi
o poema organizado nas alturas
reflectir-se aqui,
em ritmos, desenhos, estruturas
duma sintaxe que produz
coisas aéreas como o vento e a luz.



Carlos de Oliveira
(in Trabalho Poético)

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domingo, agosto 21, 2011

Plenitude nocturna



Junte-se à rósea luz
da lua no mar

a chama da candeia
de ler o júbilo

em linhas perfeitas.

Junte-se à plena paz
da lua no mar

o diamantino apuro
de uma só frase:

a alma em letra pura.




José Alberto de Oliveira
( in http://www.josealbertodeoliveira.blogspot.com/ )

domingo, agosto 14, 2011

Outra coisa

Pintura de Cesariny  



Apresentar-te aos deuses e deixar-te
entre sombra de pedra e golpe de asa
exaltar-te   perder-te   desconfiar-te
seguir-te de helicóptero até casa

dizer-te que te amo   amo   amo
que por ti passo raias e fronteiras
que não me chamo mário que me chamo
uma coisa que tens na algibeira

lançar a bomba onde vens no retrato
de dez anos anjinho nacional
e nove de colégio terceiro acto

pôr-te na posição sexual
tirar-te todo o bem e todo o mal
esquecer-me de ti como do gato


Mário Cesariny de Vasconcelos
(in Poesia 71)

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