sábado, setembro 29, 2012

Eu não existo sem você




Eu sei e você sabe, já que a vida quis assim
Que nada nesse mundo levará você de mim.
Eu sei e você sabe que a distância não existe,
Que todo grande amor só é bem grande se fôr triste.
Por isso, meu amor, não tenha medo de sofrer
Que todos os caminhos me encaminham para você.

Assim como o oceano só é belo com luar,
Assim como a canção só tem razão se se cantar,
Assim como uma nuvem só acontece se chover,
Assim como o poeta  só é grande se sofrer,
Assim como viver sem ter amor não é viver,
Não há você sem mim e eu não existo sem você.


Vinicius de Moraes

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Muito sensibilizada por este vídeo , dedicado à Encosta do Mar por Isabel Bogalho, autora do blog Música Aquática, com música interpretada por ela própria.


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sábado, setembro 22, 2012

Ondulação

Foto de Karchmarsky



O luar ondula
fluindo e refluindo
para não acabar a maré cheia
nesta praia onde
ponderável eu me encontro indo
- o pensamento em rumos ignorados
e ao sabor dos presságios ...

Em breve, à minha volta no areal,
esperanças, de branco, vaporosas,
chorando alto naufrágios
à vista da magia de seus mundos,
com suas lágrimas,
quais enxadas na terra, poderosas,
cavarão sulcos fundos.

E elas ali se hão-de enterrar
quando o luar fugir ...
Mas com elas enterrarei os meus insultos
à minha nobre angústia de vibrar,
à minha vã desgraça de sentir !



Edmundo de Bettencourt
(in Poemas de Edmundo de Bettencourt)

sexta-feira, setembro 14, 2012

Figuras de bruma ...

Foto de Krzysztof  Browko


Figuras de bruma
e de alma

iluminam-te o nome.

Acendem as águas
do mundo.

Figuras de névoa
e de sonhos

perfumam o ar
e o silêncio.

Dão-se ao vento
quando falas,

quando

eu corro atrás
das tuas palavras

como se fossem
pequenos frutos

as delícias vivas

que me pedem

os sentidos da escrita.



José Alberto de Oliveira
(retirado do blog do autor)

sexta-feira, setembro 07, 2012

Já a luz se apagou do chão do mundo

Foto de Roeselien Raimond


Já a luz se apagou do chão do mundo,
deixei de ser mortal a noite inteira ;
ofensa grave a minha, que tentei
misturar-me aos duendes na floresta.
De máscara perfeita, e corpo ausente,
a todos enganei, e ninguém nunca
saberia que ainda permaneço
deste lado do tempo onde sou gente.
Não fora o gesto humano de querer-te
como quem, tendo sede, vê na água
o reflexo da mão que a oferece,
seria folha de árvore ou sério gnomo
absorto no silêncio de uma rima
onde a morte cessasse para sempre.


António Franco Alexandre
(in Duende )