quarta-feira, fevereiro 16, 2005

O meu olhar


Foto daqui


O meu olhar é nítido como um girassol.
Tenho o costume de andar pelas estradas
Olhando para a direita e para a esquerda,
E de vez em quando olhando para trás...
E o que vejo a cada momento
É aquilo que nunca antes eu tinha visto,
E eu sei dar por isso muito bem...
Sei ter o pasmo essencial
Que tem uma criança se, ao nascer,
Reparasse que nascera deveras...
Sinto-me nascido a cada momento
Para a eterna novidade do Mundo...

Creio no mundo como num malmequer,
Porque o vejo. Mas não penso nele
Porque pensar é não compreender...

O Mundo não se fez para pensarmos nele
(Pensar é estar doente dos olhos)
Mas para olharmos para ele e estarmos de acordo...

Eu não tenho filosofia : tenho sentidos...
Se falo na Natureza não é porque saiba o que ela é,
Mas porque a amo, e amo-a por isso,
Porque quem ama nunca sabe o que ama
Nem sabe porque ama, nem o que é amar...
Amar é a eterna inocência,
E a única inocência não pensar...


Alberto Caeiro

4 Comments:

Blogger Cris said...

Adorei o poema e a noção de entrega q ele encerra...

Um beijo

1:52 da manhã  
Blogger Cerejinha said...

:-)

10:08 da tarde  
Blogger jacky said...

:) gosto muito de flores como sabes e tambem de poemas de/com flores :)
um grande beijinho

11:09 da tarde  
Blogger lique said...

"Sinto-me nascido a cada momento
Para a eterna novidade do Mundo..."

Lindo, não é? Cada vez gosto mais de Alberto Caeiro. Dantes era de Álvaro de Campos. Isto é por épocas de vida... Beijinhos

11:10 da tarde  

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