quarta-feira, maio 18, 2005

Transe


Nuvens matinais (Foto de Miguel Costa)


Num tempo neutro acordo
entre a noite e o dia
sob um céu ilegítimo condensa-se
a mudança
nuvens totais exprimem
a presente longínqua
madrugada
as aves sobrevivem na queda
ao
tempo branco
Acordo sob um céu um tecto
dum quarto
É uma imagem pobre uma velha
metáfora. No exterior porém
das paredes toalhas além
dos vidros turvos de nuvens
apagadas
agride-me a imagem invísivel
opaca
da madrugada externa
que
no dia se espalha
como uma norma espessa
uma neutra linguagem
O céu é como um poço como um mar
como um lago
comparações banais mas as mais
eficazes onde aves
como peixes
transitam lentamente errando
nas palavras
Procuro adormecer
o silêncio do
dia inutiliza a vida
Provavelmente nada
mudará ou talvez
tudo tenha mudado há muito
ou vá mudando
sob o lago do céu onde os
peixes descrevem
ilegítimos voos como velhas
metáforas.


Gastão Cruz

11 Comments:

Blogger Conceição Paulino said...

um belo céu e uma maravilhosa foto. Bjs e ;) e bom resto de semana

11:13 a.m.  
Blogger Conceição Paulino said...

um belo céu e uma maravilhosa foto. Bjs e ;) e bom resto de semana

11:13 a.m.  
Blogger Cerejinha said...

Há tanto tempo que aqui não vinha... uma lufada de ar fresco, sem dúvida.

Gostei especialmente da anologia da teia de aranha uns textos abaixo. Lindíssima!

11:46 a.m.  
Blogger hfm said...

Gostei de ler.

2:31 p.m.  
Anonymous Anónimo said...

Olá Ana.
Sabes sempre fazer do momento de vir cá, um momento único.
Beijinhos

10:55 p.m.  
Blogger mdm said...

Que bonito poema e que nuvens fantásticas as da foto!
Beijo grande de bom fim-de-semana!

6:57 p.m.  
Blogger Daniel Aladiah said...

Querida Ana
Deduzo que é o Gastão em transe...
Um beijo
Daniel

5:36 p.m.  
Blogger Vênus said...

Estonteante poema!
BJS

1:07 p.m.  
Blogger Cris said...

Excelente escolha, como sempre!

Beijinho com saudades

1:50 a.m.  
Anonymous Anónimo said...

Caíram folhas brancas nesta casa

Caíram folhas brancas nesta casa
o soalho de chumbo e gasolina
mais envelhece a perguntar o dia
caíram no soalho bombas rápidas

Ergo nos dedos ossos esmagados
e fica o pó das folhas nas retinas
mais velha faz-se a casa na planície
despenharam-se nela aviões ávidos

A pergunta da noite sobre os mortos
vem das aves caídas e da terra
passou o outono já a guerra é morta

e desloca-se o vento para o norte
a resposta da morte envolve a terra
devolve ao chão as folhas e os ossos


Gastão Cruz



Beijinhos Ana.

11:02 a.m.  
Blogger Duarte said...

"(...)O céu é como um poço como um mar
como um lago
comparações banais mas as mais
eficazes onde aves
como peixes
transitam lentamente errando
nas palavras(...)"

Lindo Ana, é mais um poema que desvela a tua excelência na escolha do que publicas. E o mar lá está! :)
Beijinho**

1:15 a.m.  

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