segunda-feira, janeiro 30, 2006

Soneto do amor difícil


Foto de João Pedro aqui


A praia abandonada recomeça
logo que o mar se vai, a desejá-lo:
é como o nosso amor , somente embalo
enquanto não é mais que uma promessa...

Mas se na praia a onda se espedaça,
há logo a nostalgia duma flor
que ali devia estar para compor
a vaga em seu rumor de fim de raça.

Bruscos e doloridos, refulgimos
no silêncio da morte que nos tolhe,
como entre o mar e a praia um longo molhe

de súbito surgido à flor dos limos.
E deste amor difícil só nasceu
desencanto na curva do teu céu.



David Mourão - Ferreira

17 Comments:

Blogger Amaral said...

Uma imagem deslumbrante para um soneto… do amor. Uma dupla que se completa!

8:29 da tarde  
Blogger jacky said...

ainda ontem li esse soneto, coincidencias boas :)

8:54 da tarde  
Blogger A .Carlos said...

Olá Ana
Um belo conjunto de imagens escritas, completadas com uma imagem desenhada.
Boa semana
bjs
:)

11:27 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

jà estava com saudades!
beijinho p'ra ti.

12:15 da tarde  
Blogger O diabo está nos detalhes said...

e não é sempre dificil, o amor?

4:27 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

este blog até já devia fazer parte do Ministério da Cultura, tamanha aula de literatura ele é. bjs

8:40 da tarde  
Blogger Su said...

o amor...sempre difícil...
bela foto
jocas maradas

8:50 da tarde  
Blogger lique said...

Acho que digo o mesmo que o Frog. Não há amores fáceis. Acrescento só que adoro David Mourão Ferreira.
Beijinhos

11:23 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Demorar os dedos pelas rendas dos poemas é como dedilhar as cordas que o sol tem.
Deixar os olhos como agua, como aves e respirar tranquiliade nas variações do amor.

Beijinhos
mARio

11:45 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Tu pensas que os cardeais
não se masturbam,
que não vêem
as telenovelas,
que vêem, quando muito, os filmes
de Bergman
e o Evangelho segundo São Mateus de
Pasolini.
Não, eles nunca lêem os livros pornográficos
e nunca pensaram em ter amantes.
Eles não conhecem o turbilhão das visões
das figuras eróticas,
eles lêem os exercícios espirituais
de Santo Inácio
e têm o odor da santidade
e irão para o céu porque nunca pecaram,
nunca acariciaram um pénis,
nunca o desejaram túmido e ardente
na sua boca casta.

Ah os cardeais como são exemplares
mesmo quando os espelhos os perseguem
com os membros e órgãos de mulheres
na fulguração da nudez liquida e candente!

Todavia eu conheço a obstinada chamado
desejo,
a sua glauca ondulação,
os seus olhos deslumbrados pela oceânica
vertigem
de um corpo embriagado pela sua simetria
e pela volúvel coerênciados
seus astros dispersos.

Não, eu não creio na inocência imaculada
dos solenes cardeais.
Eu sei que a sua carne é a mesma argila
incandescente e turva
de que o meu corpo frágil é composto.
Eles conhecem o sofrimento de ser duplos,
o vazio do desejo,
a violência nua das imagens monstruosas
,a adolescência do fogo nos labirintos negros.

Mas eu sei que os cardeais não gritam,
nem levantam a voz,
nem atravessam a fronteira do pudor
e adormecem ao rumor das orações.
É esta imagem que eu quero conservar
na religiosa monotonia do meu sono.

António Ramos Rosa

11:15 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

Tu pensas que os cardeais
não se masturbam,
que não vêem
as telenovelas,
que vêem, quando muito, os filmes
de Bergman
e o Evangelho segundo São Mateus de
Pasolini.
Não, eles nunca lêem os livros pornográficos
e nunca pensaram em ter amantes.
Eles não conhecem o turbilhão das visões
das figuras eróticas,
eles lêem os exercícios espirituais
de Santo Inácio
e têm o odor da santidade
e irão para o céu porque nunca pecaram,
nunca acariciaram um pénis,
nunca o desejaram túmido e ardente
na sua boca casta.

Ah os cardeais como são exemplares
mesmo quando os espelhos os perseguem
com os membros e órgãos de mulheres
na fulguração da nudez liquida e candente!

Todavia eu conheço a obstinada chamado
desejo,
a sua glauca ondulação,
os seus olhos deslumbrados pela oceânica
vertigem
de um corpo embriagado pela sua simetria
e pela volúvel coerênciados
seus astros dispersos.

Não, eu não creio na inocência imaculada
dos solenes cardeais.
Eu sei que a sua carne é a mesma argila
incandescente e turva
de que o meu corpo frágil é composto.
Eles conhecem o sofrimento de ser duplos,
o vazio do desejo,
a violência nua das imagens monstruosas
,a adolescência do fogo nos labirintos negros.

Mas eu sei que os cardeais não gritam,
nem levantam a voz,
nem atravessam a fronteira do pudor
e adormecem ao rumor das orações.
É esta imagem que eu quero conservar
na religiosa monotonia do meu sono.

António Ramos Rosa

11:17 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

Olá , percorri a encosta, e adorei a subida cheia de palavras mágicas e imagens lindas.

Boa semana.
beijo meu

1:54 da tarde  
Blogger Kalinka said...

Olá Ana,

Muitos dos teus poemas são ilustrados com imagens do mar, eu adoro o mar...e, também os próprios poemas falam do mar...amar.
Mais uma vez falas na praia, o mar se vai, amor...como entre o mar e a praia
E deste amor difícil só nasceu
desencanto na curva do teu céu.
Pois é...amores fáceis nunca ouvi falar, todos eles são difíceis, costuma-se dizer: Quem corre por gosto, não cansa...
Mas há muito sofrimento envolvido.
Beijokas Amiga.

12:00 da manhã  
Blogger Daniel Aladiah said...

Querida Ana
Não me esqueci de ti, mas a minha vida tem estado em tal alvoroço que não tenho tido tempo para a blogosfera e os amigos. Voltarei...
Um beijo
Daniel

10:51 da manhã  
Blogger Heloisa B.P said...

Beijinho, querida AMIGA*!
Seguiu e-mail.
Heloisa.
************

2:48 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Ana, eu que nem sempre digo "oi" agora o faço. E deixo também um beijo.

7:58 da tarde  
Blogger SL said...

A foto é muito bonita...deixa que te diga que o amor nunca é fácil, este é apenas um poema muito bonito a dizer isto mesmo.
Jinho

1:07 da tarde  

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