Soneto do amor difícil
Foto de João Pedro aqui
A praia abandonada recomeça
logo que o mar se vai, a desejá-lo:
é como o nosso amor , somente embalo
enquanto não é mais que uma promessa...
Mas se na praia a onda se espedaça,
há logo a nostalgia duma flor
que ali devia estar para compor
a vaga em seu rumor de fim de raça.
Bruscos e doloridos, refulgimos
no silêncio da morte que nos tolhe,
como entre o mar e a praia um longo molhe
de súbito surgido à flor dos limos.
E deste amor difícil só nasceu
desencanto na curva do teu céu.
David Mourão - Ferreira
17 Comments:
Uma imagem deslumbrante para um soneto… do amor. Uma dupla que se completa!
ainda ontem li esse soneto, coincidencias boas :)
Olá Ana
Um belo conjunto de imagens escritas, completadas com uma imagem desenhada.
Boa semana
bjs
:)
jà estava com saudades!
beijinho p'ra ti.
e não é sempre dificil, o amor?
este blog até já devia fazer parte do Ministério da Cultura, tamanha aula de literatura ele é. bjs
o amor...sempre difícil...
bela foto
jocas maradas
Acho que digo o mesmo que o Frog. Não há amores fáceis. Acrescento só que adoro David Mourão Ferreira.
Beijinhos
Demorar os dedos pelas rendas dos poemas é como dedilhar as cordas que o sol tem.
Deixar os olhos como agua, como aves e respirar tranquiliade nas variações do amor.
Beijinhos
mARio
Tu pensas que os cardeais
não se masturbam,
que não vêem
as telenovelas,
que vêem, quando muito, os filmes
de Bergman
e o Evangelho segundo São Mateus de
Pasolini.
Não, eles nunca lêem os livros pornográficos
e nunca pensaram em ter amantes.
Eles não conhecem o turbilhão das visões
das figuras eróticas,
eles lêem os exercícios espirituais
de Santo Inácio
e têm o odor da santidade
e irão para o céu porque nunca pecaram,
nunca acariciaram um pénis,
nunca o desejaram túmido e ardente
na sua boca casta.
Ah os cardeais como são exemplares
mesmo quando os espelhos os perseguem
com os membros e órgãos de mulheres
na fulguração da nudez liquida e candente!
Todavia eu conheço a obstinada chamado
desejo,
a sua glauca ondulação,
os seus olhos deslumbrados pela oceânica
vertigem
de um corpo embriagado pela sua simetria
e pela volúvel coerênciados
seus astros dispersos.
Não, eu não creio na inocência imaculada
dos solenes cardeais.
Eu sei que a sua carne é a mesma argila
incandescente e turva
de que o meu corpo frágil é composto.
Eles conhecem o sofrimento de ser duplos,
o vazio do desejo,
a violência nua das imagens monstruosas
,a adolescência do fogo nos labirintos negros.
Mas eu sei que os cardeais não gritam,
nem levantam a voz,
nem atravessam a fronteira do pudor
e adormecem ao rumor das orações.
É esta imagem que eu quero conservar
na religiosa monotonia do meu sono.
António Ramos Rosa
Tu pensas que os cardeais
não se masturbam,
que não vêem
as telenovelas,
que vêem, quando muito, os filmes
de Bergman
e o Evangelho segundo São Mateus de
Pasolini.
Não, eles nunca lêem os livros pornográficos
e nunca pensaram em ter amantes.
Eles não conhecem o turbilhão das visões
das figuras eróticas,
eles lêem os exercícios espirituais
de Santo Inácio
e têm o odor da santidade
e irão para o céu porque nunca pecaram,
nunca acariciaram um pénis,
nunca o desejaram túmido e ardente
na sua boca casta.
Ah os cardeais como são exemplares
mesmo quando os espelhos os perseguem
com os membros e órgãos de mulheres
na fulguração da nudez liquida e candente!
Todavia eu conheço a obstinada chamado
desejo,
a sua glauca ondulação,
os seus olhos deslumbrados pela oceânica
vertigem
de um corpo embriagado pela sua simetria
e pela volúvel coerênciados
seus astros dispersos.
Não, eu não creio na inocência imaculada
dos solenes cardeais.
Eu sei que a sua carne é a mesma argila
incandescente e turva
de que o meu corpo frágil é composto.
Eles conhecem o sofrimento de ser duplos,
o vazio do desejo,
a violência nua das imagens monstruosas
,a adolescência do fogo nos labirintos negros.
Mas eu sei que os cardeais não gritam,
nem levantam a voz,
nem atravessam a fronteira do pudor
e adormecem ao rumor das orações.
É esta imagem que eu quero conservar
na religiosa monotonia do meu sono.
António Ramos Rosa
Olá , percorri a encosta, e adorei a subida cheia de palavras mágicas e imagens lindas.
Boa semana.
beijo meu
Olá Ana,
Muitos dos teus poemas são ilustrados com imagens do mar, eu adoro o mar...e, também os próprios poemas falam do mar...amar.
Mais uma vez falas na praia, o mar se vai, amor...como entre o mar e a praia
E deste amor difícil só nasceu
desencanto na curva do teu céu.
Pois é...amores fáceis nunca ouvi falar, todos eles são difíceis, costuma-se dizer: Quem corre por gosto, não cansa...
Mas há muito sofrimento envolvido.
Beijokas Amiga.
Querida Ana
Não me esqueci de ti, mas a minha vida tem estado em tal alvoroço que não tenho tido tempo para a blogosfera e os amigos. Voltarei...
Um beijo
Daniel
Beijinho, querida AMIGA*!
Seguiu e-mail.
Heloisa.
************
Ana, eu que nem sempre digo "oi" agora o faço. E deixo também um beijo.
A foto é muito bonita...deixa que te diga que o amor nunca é fácil, este é apenas um poema muito bonito a dizer isto mesmo.
Jinho
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