Príncipe
Foto retirada de Dias de Chuva
Príncipe:
Era de noite quando eu bati à tua porta
e na escuridão da tua casa tu vieste abrir
e não me conheceste.
Era de noite
são mil e umas
as noites em que bato à tua porta
e tu vens abrir
e não me reconheces
porque eu jamais bato à tua porta.
Contudo
quando eu bati à tua porta
e tu vieste abrir
os teus olhos de repente
viram-me
pela primeira vez
como sempre de cada vez é a primeira
a derradeira
instância do momento de eu surgir
e tu veres-me.
Era de noite quando eu bati à tua porta
e tu vieste abrir
e viste-me
como um náufrago sussurrando qualquer coisa
que ninguém compreendeu.
Mas era de noite
e por isso
tu soubeste que era eu
e vieste abrir-te
na escuridão da tua casa.
Ah era de noite
e de súbito
tudo era apenas lábios pálpebras
intumescências cobrindo o corpo de flutuantes
volteios de palpitações trémulas adejando
pelo rosto beijava os teus olhos por dentro.
Beijava os teus olhos pensados
beijava-te pensando
e estendia a mão
sobre o meu pensamento corria para ti
minha praia jamais alcançada
impossibilidade desejada
de apenas poder pensar-te.
São mil e umas
as noites em que não bato à tua porta
e vens abrir-me.
Ana Hatherly
7 Comments:
Procurei documentar-me, porque não conhecia nada de Ana Hatherly, e verifico que é um dos nomes mais importantes das vanguardas portuguesas da segunda metade do século, a nível da poesia.
Porque escolheste bem e tiveste muito bom gosto, parabéns!
Ana,
Ao ler este poema, imaginei-me eu a bater a uma certa porta
:)
muito lindo
beijinhuuu
Belíssimo e com um final num crescendo demolidor.
Existem registos de que ainda há príncipes!!!
:)
gosto mtº da escrita dela. Smp. bomf.s Bjs e ;)
olá! não conhecia a escritora mas é bom ficar a conhecer!
também gosto muito dos escritos desta senhora!
beijinhos e boa semana p'ra ti.
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