sexta-feira, abril 28, 2006
domingo, abril 23, 2006
As mãos
Foto de Baciar
Com mãos se faz a paz se faz a guerra.
Com mãos tudo se faz e desfaz.
Com mãos se faz o poema - e são de terra.
Com mãos se faz a guerra - e são a paz.
Com mãos se rasga o mar. Com mãos se lavra.
Não são de pedra estas casas, mas
de mãos. E estão no fruto e na palavra
as mãos que são o canto e são as armas.
E cravam-se no tempo como farpas
as mãos que vês nas coisas transformadas.
Folhas que vão no vento: verdes harpas.
De mãos é cada flor, cada cidade.
Ninguém pode vencer estas espadas:
nas tuas mãos começa a liberdade.
Manuel Alegre
(Porque convém não esquecer que houve um dia em que sonhámos a liberdade)
sábado, abril 08, 2006
Um fado : Palavras minhas
Red baloon (Paul Klee)
Palavras que disseste e já não dizes,
palavras como um sol que me queimava,
olhos loucos de um vento que soprava
em olhos que eram meus, e mais felizes.
Palavras que disseste e que diziam
segredos que eram lentas madrugadas,
promessas imperfeitas, murmuradas
enquanto os nossos beijos permitiam.
Palavras que dizias, sem sentido,
sem as quereres, mas só porque eram elas
que traziam a calma das estrelas
à noite que assomava ao meu ouvido...
Palavras que não dizes, nem são tuas,
que morreram, que em ti já não existem
- que são minhas, só minhas, pois persistem
na memória que arrasto pelas ruas.
Pedro Tamen
quarta-feira, abril 05, 2006
Gaivota
Foto de Pedro Ferreira aqui
Um dos milagres da poesia é o de, a partir de umas, fazer nascer outras palavras.
Este poema foi-me deixado como comentário a um dos meus posts anteriores.
Obrigada, mARio.
É o horizonte que se move?
ou o meu olhar parou aqui?
Os meus dedos
as minhas mãos
alteram-se
e escrevem.
Ainda bem que estamos juntos...
Estamos aqui... encostados ao mar...
Líquidos contornamos
dispersos
o delinear
o cheiro leve dos poemas.
Estaremos vivos enquanto as ondas ininterruptas batem
enchendo a maré
e o azul se submete mais azul ainda
num risco marcadamente azul
transparente
leve
belo e subtil
desejosamente enlouquecido
a chamar-se
gaivota.
mARio