sábado, março 01, 2008

Estrelas de Março



Longe vem ainda a sementeira. Surgem
os primeiros campos à chuva e estrelas de Março.
O universo ajusta-se à fórmula
de pensamentos estéreis, a exemplo
da luz que não toca a neve.

Haverá também pó sob a neve
e o que não se desfez servirá depois
de alimento ao pó. Oh vento a erguer-se!
Arados rasgam de novo as trevas.
Os dias querem alongar-se.

Nos dias longos semeiam-nos, sem nos perguntar,
naqueles sulcos tortos e direitos,
e as estrelas retiram-se. Nos campos
crescemos ou morremos ao deus-dará,
obedientes à chuva e por fim também à luz.



Ingeborg Bachmann
(in O Tempo Aprazado)
tradução de João Barrento
.

14 Comments:

Blogger Maria said...

É um excelente poema...
... que me lembrou outro, que te deixo:

É pau, é pedra, é o fim do caminho
É um resto de toco, é um pouco sozinho
É um caco de vidro, é a vida, é o sol
É a noite, é a morte, é um laço, é o anzol
É peroba no campo, é o nó da madeira
Caingá candeia, é o matita-pereira
É madeira de vento, tombo da ribanceira
É o mistério profundo, é o queira ou não queira
É o vento ventando, é o fim da ladeira
É a viga, é o vão, festa da cumeeira
É a chuva chovendo, é conversa ribeira
Das águas de março, é o fim da canseira
É o pé, é o chão, é a marcha estradeira
Passarinho na mão, pedra de atiradeira
É uma ave no céu, é uma ave no chão
É um regato, é uma fonte, é um pedaço de pão
É o fundo do poço, é o fim do caminho
No rosto um desgosto, é um pouco sozinho
É um estepe, é um prego, é uma conta, é um conto
É um pingo pingando, é uma conta, é um ponto
É um peixe, é um gesto, é uma prata brilhando
É a luz da manha, é o tijolo chegando
É a lenha, é o dia, é o fim da picada
É a garrafa de cana, o estilhaço na estrada
É o projeto da casa, é o corpo na cama
É o carro enguiçado, é a lama, é a lama
É um passo, é uma ponte, é um sapo, é uma rã
É um resto de mato na luz da manhã
São as águas de março fechando o verão
É a promessa de vida no teu coração
É uma cobra, é um pau, é João, é José
É um espinho na mão, é um corte no pé
São as águas de março fechando o verão
É a promessa de vida no teu coração
É pau, é pedra, é o fim do caminho
É um resto de toco, é um pouco sozinho
É um passo, é uma ponte, é um sapo, é uma rã

(tom jobim)

Beijos, Ana

1:39 da manhã  
Blogger O Profeta said...

Nos umbrais do pensamento
Mora o desejo no limite da razão
Roubando os segredos do corpo
Lançando ao vento a emoção

Uma rosa breve guarda a beleza
O amor é orvalho de feliz pranto
O horizonte é o começo do infinito
A chegada de uma onda é alegro canto

Convido-te a sentir o beijo da chuva

Bom fim de semana


Mágico beijo

4:33 da tarde  
Blogger Odilon said...

E o que seria de nós se nem nos sulcos tortos, à luz e à chuva o broto do deus-dará murchasse.
Novos ventos levam as sementes aos locais não imaginados.

7:07 da tarde  
Blogger Isamar said...

Um poema forte, que me diz muito e que eu desconhecia.
Obrigada, Ana, por o teres partilhado connosco.

Bom Domingo!

Beijinhos do sul...a ver o mar.

8:54 da manhã  
Blogger © Maria Manuel said...

a natureza tem a sua ordem, as suas leis...

9:44 da manhã  
Blogger un dress said...

dele, só conheço prosa...

o vestido vermelho

e isto é... lindO...!





beijO

10:10 da manhã  
Blogger Kalinka said...

AMIGA
demorei, mas hoje cá estou, vim agradecer tuas mágicas e simpáticas palavras, quando pedi uma opinião.
Foi bom ter o teu feedback.

Sabes que não ando bem.
Preciso de TI
das tuas palavras, da tua companhia

Mar – sempre presente na minha Vida;
Não consigo estar junto dele, sem fotografar,
Captar imagens fabulosas
Céu, horizonte, vento, ar
Elementos indispensáveis para me sentir bem
Mais 2 imagens de minha autoria
Para juntar às lindas palavras de Paulo Leminsky

Bom domingo. Beijo.

1:41 da tarde  
Blogger Otávio said...

O poema não precisa nem comentar, é maravilhoso. Agora, a fotografia não tem igual. Que céu é este? A cor e o formato das nuvens são espetaculares. Acho que deve ser algum daqueles momentos em que alguem consegue captar a Natureza num de seus momentos mais bonitos.

1:46 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

não entendo o poema. espero que a Primavera ajude-me a entender.

4:06 da tarde  
Blogger Kalinka said...

A Páscoa é dia 23 e eu tinha na ideia, estar contigo antes da Páscoa.
Preciso tanto de falar contigo.

Hoje ando para aqui, enbrenhada a fazer a minha «auto-biografia». Tenho que entregar na próxima 3ª feira, é o trabalho que me pediram para fazer.
Isto é complicado...resumir 52 anos em 3 folhas...possas!!!
A minha vida tem sido muito rica em acontecimentos e...há muito para escrever, só que tenho que ser suficientemente inteligente para saber o que espremer e o que devo deixar ficar.
E, depois das 2 semanas horríveis que passei, não sei mesmo como ainda tenho cabeça.
OK, querem-me destruir, mas EU NÃO DEIXO.
Beijokas.

8:20 da tarde  
Blogger delusions said...

Também pensei nas águas de março...


Bjinho*

9:36 da tarde  
Blogger hfm said...

Li e reli. É um poema que flui e que temos de seguir, uma verdadeira preciosidade.

12:43 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

são as águas de março...o meu mês, pisciano que vive na aridez da terra, mas descobrindo nas palavras a água que preciso. lindo, Ana. nessas águas doces da Encosta, encontro paz. beijo e feliz semana.

1:52 da tarde  
Blogger Adriana said...

PRESENTINHO PARA VOCE NOS tres marias beijos

4:16 da tarde  

Enviar um comentário

<< Home