O meu amor não cabe num poema
Pintura de Cristina Ataíde
O meu amor não cabe num poema - há coisas assim,
que não se rendem à geometria deste mundo;
são como corpos desencontrados da sua arquitectura
ou quartos que os gestos não preenchem.
O meu amor é maior que as palavras; e daí inútil
a agitação dos dedos na intimidade do texto -
a página não ilustra o zelo do farol que agasalha as baías
nem a candura da mão que protege a chama que estremece.
O meu amor não se deixa dizer - é um formigueiro
que acode aos lábios como a urgência de um beijo
ou a matéria efervescente dos segredos; a combustão
laboriosa que evoca, à flor da pele, vestígios
de uma explosão exemplar: a cratera que um corpo,
ao levantar-se, deixa para sempre na vizinhança de outro corpo.
O meu amor anda por dentro do silêncio a formular loucuras
com a nudez do teu nome - é um fantasma que estrebucha
no dédalo das veias e sangra quando o encerram em metáforas.
Um verso que o vestisse definharia sob a roupa
como o esqueleto de uma palavra morta. Nenhum poema
podia ser o chão da sua casa.
Maria do Rosário Pedreira
(in O Canto do Vento nos Ciprestes)
.
O meu amor não cabe num poema - há coisas assim,
que não se rendem à geometria deste mundo;
são como corpos desencontrados da sua arquitectura
ou quartos que os gestos não preenchem.
O meu amor é maior que as palavras; e daí inútil
a agitação dos dedos na intimidade do texto -
a página não ilustra o zelo do farol que agasalha as baías
nem a candura da mão que protege a chama que estremece.
O meu amor não se deixa dizer - é um formigueiro
que acode aos lábios como a urgência de um beijo
ou a matéria efervescente dos segredos; a combustão
laboriosa que evoca, à flor da pele, vestígios
de uma explosão exemplar: a cratera que um corpo,
ao levantar-se, deixa para sempre na vizinhança de outro corpo.
O meu amor anda por dentro do silêncio a formular loucuras
com a nudez do teu nome - é um fantasma que estrebucha
no dédalo das veias e sangra quando o encerram em metáforas.
Um verso que o vestisse definharia sob a roupa
como o esqueleto de uma palavra morta. Nenhum poema
podia ser o chão da sua casa.
Maria do Rosário Pedreira
(in O Canto do Vento nos Ciprestes)
.
15 Comments:
Conheci esta poeta aqui mesmo, num outro blogue.
É excelente....
Obrigada, começo bem o domingo.
Beijinhos
em nunhuma palavra cabe:
o
meu
amor
Maria do Rosário Pedreira, uma poeta contemporânea, professora universitária,de uma sensibilidade invulgar que tu, igualmente invulgar nos sentires, nas palavras, nas imagens, respigaste como costumas fazer para nos presentear. Bom gosto, o teu, minha doce Ana. Bom canto, este, onde me encontro com o afecto,o calor, protegida de ventos com que a minha pele não se dá.
Beijinhos mil com muita, muita amizade.
Cara Ana,
a noite de autógrafos ainda existe apenas na imaginação da amiga Adriana. Quanto for mais que virtual faço questão de convidá-la, mesmo com a distância de um oceano. Sei que o coração vai estar presente.
O blog agora pode ser acessado pelo nome. Coisas de velho, não havia ativado.
Quanto ao poema e a imagem são fascinantes. Ideais para começar um dia radiante como este. Pelo menos aqui no Brasil.
PS: com pedido expresso de desculpas pela grosseria de ter feito o comentário anterior sem referência ao post.
Sempre muito bom as suas postagens,vejo que já fez amizade com Odilon,fiquei feliz.Ele é uma grande pessoa,um ser humano maravilhoso e é gênio apesar de não gostar de ser chamado assim.Todos que eu coloco no meu cantinho de amigos é porque minha alma se liga a eles.Você esta incluida nesta,sou muito ciumenta mas como boa criança divido voce com eles.Beijos no coração.
A poesia é exacatamente assim: sente-se quando se lê!
Por isso, nada cabe num poema, porque Tudo vibra num poema!
O amor é.
Ele não cabe, já que "é", mesmo, a beleza do poema!
Nunca cabe!
Beijinhos, minha querida amiga
Extraordinário...em não cabe uma única palavra para escrever. Apenas, repito: extraordinário. Obrigado por tudo, Ana. Beijo e tenha uma semana feliz.
As tuas palavras caem-me como carícias. Há um sentir comum, uma espécie de arrepio quando as leio. Será o mar? Será a poesia?
Beijinhossssss
Ana
Lá no Desafios... há matéria de dança! Aceitas?
Beijo com carinho
*
o amor não cabe num poema :::
mas,
o meu sentir revigora nos palavras,
de Maria do Rosário Pedreira,
,
conchinhas
,
*
gostei muito do poema.
o amor - como tantos os sentimentos - é indizível.
por mais que o amor nao caiba num poema - a mais pura verdade
isso que eh perfeiçao de poema!
salve as belas poesias, que marcam, e nao se podem jogar fora.
seladas pra sempre.
conduçao linda que deu para as palavras.
abraços
LINDO o poema, bela escolha!
Parabéns.
Bem que adoraria tirar uns dias da minha rotina habitual, casa-trabalho e ir sem direcção, por aí...Mas será que queria mesmo? Sózinha...
estou cansada de andar sózinha...
Queria ter as rédeas da minha vida e das minhas vontades na mão, neste momento não pode ser AINDA...
Queres vir comigo ao cinema?
Bom fim de semana.
Um abraço.
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