segunda-feira, março 10, 2008

Não há outro caminho


Os poemas podem ser desolados
como uma carta devolvida,
por abrir. E podem ser o contrário
disso. A sua verdadeira consequência
raramente nos é revelada. Quando,
a meio de uma tarde indistinta, ou então
à noite, depois dos trabalhos do dia,
a poesia acomete o pensamento, nós
ficamos de repente mais separados
das coisas, mais sozinhos com as nossas
obsessões. E não sabemos quem poderá
acolher-nos nessa estranha, intranquila
condição. Haverá quem nos diga, no fim
de tudo : eu conheço-te e senti a tua falta?
Não sabemos. Mas escrevemos, ainda
assim. Regressamos a essa solidão
com que esperamos merecer, imagine-se,
a companhia de outra solidão. Escrevemos,
regressamos. Não há outro caminho.



Rui Pires Cabral
(in Longe da aldeia)

.

14 Comments:

Blogger Odilon said...

Esta é a magia da escrita e, principalmente, do poema. O sentimento toma forma apenas como sentimento. A realidade pode ou não fazer parte deste mundo.

1:51 da manhã  
Blogger FERNANDINHA & POEMAS said...

Olá Ana, adorei o teu blogue e a tua escrita e estou de acordo contigo.
Beijinhos,
Fernandinha

3:29 da manhã  
Blogger Otávio said...

Realmente não há outro caminho. Belo texto.

Abraços.

10:51 da manhã  
Blogger Amaral said...

A poesia do poeta enfeita a realidade com a magia, com as cores e os sons daquilo que se sente e não se vê...
A mistura de dois mundos que se conhecem proporcionam ao poeta a paleta que o liberta da fisicalidade e o acolhe no imaginário dos sentidos onde abundam a beleza e a sensibilidade...

11:13 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

escrever é sempre magia e a escrita é capaz de transformar as pessoas, sou dos que acreditamnisso. (é amanhã, Ana, mais um verão em minha vida)beijinho.

12:14 da tarde  
Blogger T S said...

Oi amiga
adorei seu blog
convido vc para Lusitana Ilusao
espero que goste
bjs inocentes
ts

7:59 da tarde  
Blogger Isamar said...

A poesia e a mensagem subtil e delicada do poeta. Quem não fica deliciado perante esta mistura de estética e lirismo?

Beijinhossss de mar

9:28 da tarde  
Blogger Joana Roque Lino said...

gostei muito do poema.

6:15 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Ana, obrigado pelo carinho e presença. Deixaste o dia mais feliz. Um presente que recebi. Beijo.

6:50 da tarde  
Blogger poetaeusou . . . said...

*
o poema,
é o produto final do momento,
o pensamemto,
divagado em teorema,
proposição,
de liberdade consentida,
retida,
num mar de solidão
,
conchinhas poéticos, deixo,
,
*

7:16 da tarde  
Blogger Kalinka said...

AMIGA
Belo poema, belas palavras.
..."E não sabemos quem poderá
acolher-nos nessa estranha, intranquila condição.
Haverá quem nos diga, no fim
de tudo : eu conheço-te e senti a tua falta?"

Beijos

12:14 da manhã  
Blogger Kalinka said...

LINDO:

..."Regressamos a essa solidão
com que esperamos merecer, imagine-se, a companhia de outra solidão."

Estou de rastos.
O m/médico disse que tive uma descarga de vesícula, já seria de esperar depois das 5 semanas de nervos...e mais nervos; além da paragem de digestão...que mais me falta acontecer?

Abraço muito apertado.

12:17 da manhã  
Blogger © Maria Manuel said...

o caminho da escrita...

poema lindíssimo!

8:36 da manhã  
Blogger Memória transparente said...

O caminho...

10:55 da tarde  

Enviar um comentário

<< Home