domingo, junho 22, 2008

Quando eu morrer...



Quando eu morrer, não digas a ninguém que foi por ti.
Cobre o meu corpo frio com um desses lençóis
que alagámos de beijos quando eram outras horas
nos relógios do mundo e não havia ainda quem soubesse
de nós; e leva-o depois para junto do mar, onde possa
ser apenas mais um poema - como esses que eu escrevia
assim que a madrugada se encostava aos vidros e eu
tinha medo de me deitar só com a tua sombra. Deixa

que nos meus braços pousem então as aves ( que , como eu,
trazem entre as penas a saudade de um verão carregado
de paixões). E planta à minha volta uma fiada de rosas
brancas que chamem pelas abelhas, e um cordão de árvores
que perfurem a noite - porque a morte deve ser clara
como o sal na baínha das ondas, e a cegueira sempre
me assustou ( e eu já ceguei de amor, mas não contes
a ninguém que foi por ti). Quando eu morrer, deixa-me

a ver o mar do alto de um rochedo e não chores, nem
toques com os teus lábios a minha boca fria. E promete-me
que rasgas os meus versos em pedaços tão pequenos
como pequenos foram sempre os meus ódios; e que depois
os lanças na solidão de um arquipélago e partes sem olhar
para trás nenhuma vez: se alguém os vir de longe brilhando
na poeira, cuidará que são flores que o vento despiu, estrelas
que se escaparam das trevas, pingos de luz, lágrimas de sol,
ou penas de um anjo que perdeu as asas por amor.



Maria do Rosário Pedreira
(in O Canto do Vento nos Ciprestes)


.

19 Comments:

Blogger © Maria Manuel said...

poema de amor belíssimo.

5:00 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Gostei muitíssimo das imagens do poema!
abç

7:20 da tarde  
Blogger O'Sanji said...

E os meus pés trouxeram-me aqui!
Beijos

11:57 da tarde  
Blogger Isamar said...

Maria do Carmo Pedreira é das minhas poetisas contemporâneas vivas uma das que mais aprecio.
Ter a sua obra é indispensável.
Obrigada por no-la teres trazido hoje.
Foi muito bom!

Mil beijinhos

8:16 da manhã  
Blogger Isamar said...

Claro que o "minhas" está a mais. É o que dá não reler.

Beijinhos

8:17 da manhã  
Blogger poetaeusou . . . said...

*
o precioso amor,
exaltado por,
Maria do Carmo Pedreira,
,
conchinhas
,
*

2:40 da tarde  
Blogger Daniel Aladiah said...

Querida Ana
Pouco conheço, mas este conhecia... belíssimo.
Um beijo
Daniel

11:15 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

poema lindo, comovente e belo, como é o amor. lindo post, Ana. beijo.

3:51 da tarde  
Blogger Duarte said...

Só uma poetisa como ela pode fazer algo assim...
só uma mulher como tu partilha estes versos connosco.

Que tenhas um dia feliz

7:05 da tarde  
Blogger Carminda Pinho said...

Ana,
um belíssimo poema de amor, o que acabo de ler aqui.
A autora era para mim desconhecida, deixou de o ser por tua mão.
Obrigada.

Beijos

6:16 da manhã  
Blogger Emanuel Azevedo said...

Lindo trabalho, lindas palavras e já agora lindo blog. Parabéns e um abraço dos Açores.

2:20 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Oi Ana,
Olha só neste link

http://gavetadelinks.blogspot.com/2008/06/selo-blog-amigo.html

me foi oferecido um Selo de Blog Amigo e tenho de repassá-lo para mais 5 blogs, estão na barra lateral da minha página os blogs que escolhi e dentre eles o teu. Oferto-o com carinho!
beijos @>--

5:07 da tarde  
Blogger ROSASIVENTOS said...

Este comentário foi removido pelo autor.

5:15 da tarde  
Blogger ~pi said...

quando eu morrer

deixará por fim

de ser

tarde



~

5:19 da tarde  
Blogger Otávio said...

Belíssimo poema. Gostei muito.

Beijos.

10:37 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

lindo

bjs

10:53 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Lindo, de "morrer"!
Obrigada, mAna,
Jo

2:10 da manhã  
Blogger lupuscanissignatus said...

o

mar

do

amor


(vaga
que nos
inunda)

7:32 da tarde  
Blogger Maria said...

É excelente este poema de Maria do Rosário Pedreira, que eu descobri aqui, na net...

Beijinhos

5:02 da manhã  

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