Quando eu morrer...
Quando eu morrer, não digas a ninguém que foi por ti.
Cobre o meu corpo frio com um desses lençóis
que alagámos de beijos quando eram outras horas
nos relógios do mundo e não havia ainda quem soubesse
de nós; e leva-o depois para junto do mar, onde possa
ser apenas mais um poema - como esses que eu escrevia
assim que a madrugada se encostava aos vidros e eu
tinha medo de me deitar só com a tua sombra. Deixa
que nos meus braços pousem então as aves ( que , como eu,
trazem entre as penas a saudade de um verão carregado
de paixões). E planta à minha volta uma fiada de rosas
brancas que chamem pelas abelhas, e um cordão de árvores
que perfurem a noite - porque a morte deve ser clara
como o sal na baínha das ondas, e a cegueira sempre
me assustou ( e eu já ceguei de amor, mas não contes
a ninguém que foi por ti). Quando eu morrer, deixa-me
a ver o mar do alto de um rochedo e não chores, nem
toques com os teus lábios a minha boca fria. E promete-me
que rasgas os meus versos em pedaços tão pequenos
como pequenos foram sempre os meus ódios; e que depois
os lanças na solidão de um arquipélago e partes sem olhar
para trás nenhuma vez: se alguém os vir de longe brilhando
na poeira, cuidará que são flores que o vento despiu, estrelas
que se escaparam das trevas, pingos de luz, lágrimas de sol,
ou penas de um anjo que perdeu as asas por amor.
Maria do Rosário Pedreira
(in O Canto do Vento nos Ciprestes)
.
19 Comments:
poema de amor belíssimo.
Gostei muitíssimo das imagens do poema!
abç
E os meus pés trouxeram-me aqui!
Beijos
Maria do Carmo Pedreira é das minhas poetisas contemporâneas vivas uma das que mais aprecio.
Ter a sua obra é indispensável.
Obrigada por no-la teres trazido hoje.
Foi muito bom!
Mil beijinhos
Claro que o "minhas" está a mais. É o que dá não reler.
Beijinhos
*
o precioso amor,
exaltado por,
Maria do Carmo Pedreira,
,
conchinhas
,
*
Querida Ana
Pouco conheço, mas este conhecia... belíssimo.
Um beijo
Daniel
poema lindo, comovente e belo, como é o amor. lindo post, Ana. beijo.
Só uma poetisa como ela pode fazer algo assim...
só uma mulher como tu partilha estes versos connosco.
Que tenhas um dia feliz
Ana,
um belíssimo poema de amor, o que acabo de ler aqui.
A autora era para mim desconhecida, deixou de o ser por tua mão.
Obrigada.
Beijos
Lindo trabalho, lindas palavras e já agora lindo blog. Parabéns e um abraço dos Açores.
Oi Ana,
Olha só neste link
http://gavetadelinks.blogspot.com/2008/06/selo-blog-amigo.html
me foi oferecido um Selo de Blog Amigo e tenho de repassá-lo para mais 5 blogs, estão na barra lateral da minha página os blogs que escolhi e dentre eles o teu. Oferto-o com carinho!
beijos @>--
Este comentário foi removido pelo autor.
quando eu morrer
deixará por fim
de ser
tarde
~
Belíssimo poema. Gostei muito.
Beijos.
lindo
bjs
Lindo, de "morrer"!
Obrigada, mAna,
Jo
o
mar
do
amor
(vaga
que nos
inunda)
É excelente este poema de Maria do Rosário Pedreira, que eu descobri aqui, na net...
Beijinhos
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