quarta-feira, fevereiro 04, 2009

Magnificat



Foto de Matjaz
(www.onexposure.net)



Quando é que passará esta noite interna, o universo,
E eu, a minha alma, terei o meu dia?
Quando é que despertarei de estar acordado?
Não sei. O sol brilha alto,
Impossível de fitar.
As estrelas pestanejam frio,
Impossíveis de contar.
O coração pulsa alheio,
Impossível de escutar.
Quando é que passará este drama sem teatro,
Ou este teatro sem drama,
E recolherei a casa?
Onde? Como? Quando?
Gato que me fitas com olhos de vida,
quem tens lá no fundo?
É esse! É esse!
Esse mandará como Josué parar o sol e eu acordarei;
E então será dia.
Sorri, dormindo, minha alma!
Sorri, minha alma, será dia!



Álvaro de Campos
(in Obras Completas II)


.

14 Comments:

Blogger Mare Liberum said...

Álvaro de Campos, Alberto Caeiro, Fernando Pessoa, Chevalier de Pas... tantos seres albergados num só que é magnífico. Continuo a deliciar-me com a sua obra.
" Quando é que passará esta noite interna, o universo, E eu, a minha alma, terei o meu dia?"

Quando?

Beijinhos mil

Bem-hajas, amiga da poesia!

6:23 da tarde  
Blogger Maria said...

Gosto desta frase do FP - Alberto Caeiro:
"Se depois de eu morrer, quiserem escrever a minha biografia,
Não há nada mais simples.
Tem só duas datas - a da minha nascença e a da minha morte.
Entre uma e outra todos os dias são meus."

Mas é sempre Pessoa...
Obrigada pela partilha.

Beijinho, Ana

10:03 da tarde  
Blogger hfm said...

Com este senhor ficarei sempre aqui o dia inteiro.

11:01 da manhã  
Blogger De Amor e de Terra said...

Tal como ele, muita vez me pergunto também:- Quando será que regresso a casa?!

Bjs

Maria Mamede

3:18 da tarde  
Blogger MARIPA said...

Magnífico Fernando Pessoa...

Tanto sentir nas palavras que nos deixou.

Beijinho,Ana.

10:24 da tarde  
Blogger O Profeta said...

A terra dorme em sobressalto
Um grito brota da alma
Danço com esta bruma de Inverno
Rodopia em meu peito uma estranha calma

Águas despertas, Mar bravio
Cai sobre mim um nevoeiro perverso
Uma onda estende seu manto de espuma
Açoita as pedras adiando o regresso


Bom fim de semana


Mágico beijo

10:27 da manhã  
Blogger Maré Viva said...

"Onde? Como? Quando?" quem não gostaria de saber?
Obrigada pela partilha.

Deixo um beijo.

12:17 da tarde  
Blogger Isabel José António said...

Querida Amiga Ana,

É de facto um espanto, a "navegação" que Fernando Pessoa e os seus heterónimos, fazem entre o SER e o NÃo-SER.

Para mim não é Camões o poeta mais importante de Portugal, apesar da forma sublime, como este joga com as palavras. F.Pessoa é o Mestre dos Mestres com os conceitos, a vida oculta de tudo percorre, a morte que é vida e a vida que é morte.

Muitos parabéns pelo bom gosto da escolha.

Um abraço

José António

1:50 da tarde  
Blogger poetaeusou . . . said...

*
Cumpriu-se o Mar,
e o Império se desfez.
Senhor,
falta cumprir-se Portugal!
,
( ainda...diria eu )
,
conchinhas, envio,
,
*

3:31 da tarde  
Blogger ~pi said...

perguntas dirigidas a alberto caeiro

( certamente!



beijo




~

2:33 da manhã  
Blogger DE-PROPOSITO said...

Sorri,
----------
É bom sorrir. Mas nem sempre os sorrisos são de alegria. Também há sorrisos de tristeza.
Fica bem.
E a felicidade por aí.
Manuel

9:32 da manhã  
Blogger pico minha ilha said...

Sim num acordar da alma será dia sem bruma.Beijinhos e bfs

3:38 da tarde  
Blogger Lmatta said...

lindo poema
belo conjunto
beijos

7:30 da tarde  
Blogger © Maria Manuel said...

poema teatral, de alguma intensidade.

um beijo, Ana.

9:23 da manhã  

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