terça-feira, dezembro 09, 2008

Orla marítima

Foto de William Williamson aqui


O tempo das suaves raparigas
é junto ao mar ao longo da avenida
ao sol dos solitários dias de dezembro
Tudo ali pára como nas fotografias
É a tarde de agosto o rio a música o teu rosto
alegre e jovem hoje ainda quando tudo ia mudar
És tu surges de branco pela rua antigamente
noite iluminada noite de nuvens ó melhor mulher
(E nos alpes o cansado humanista canta alegremente)
"Mudança possui tudo"? Nada muda
nem sequer o cultor dos sistemáticos cuidados
levanta a dobra da tragédia nestas brancas horas
Deus anda à beira de água calça arregaçada
como um homem se deita como um homem se levanta
Somos crianças feitas para grandes férias
pássaros pedradas de calor
atiradas ao frio em redor
pássaros compêndios de vida
e morte resumida agasalhada em asas
Ali fica o retrato destes dias
gestos e pensamentos tudo fixo
Manhã dos outros não nossa manhã
pagão solar de uma alegria calma

De terra vem a água e da água a alma
o tempo é a maré que leva e traz
o mar às praias onde eternamente somos
Sabemos agora em que medida merecemos a vida



Ruy Belo
(Todos os Poemas)

.

14 Comments:

Blogger hfm said...

Ele, sempre!

10:35 da manhã  
Blogger Adriana said...

Como sempre primorosa a descrição de sentimentos.

Sempre o mar!

bjs

2:15 da tarde  
Blogger Carla said...

mesmo não sendo já uma "suave rapariga" quero o meu tempo junto ao mar...sempre!
beijos

1:06 da tarde  
Blogger MARIPA said...

"...o tempo é a maré que leva e traz
o mar às praias onde eternamente somos..."

Beijo carinhoso,Ana.

9:50 da tarde  
Blogger De Amor e de Terra said...

Minha querida Ana, bom dia, apesar da chuva miudinha e do cinzento.
Que beleza este Poema de Ruy Belo...talvez ele, em fim de vida, quem sabe, pudesse ver o que aqui descreve com tamanha beleza.
Eu, que como as pedras, espero tranquilamente a chegada dessa irmã anunciada desde o berço, talvez eu, será melhor dizer, comece agora a penetrar nas entre linhas de algumas imagens poéticas que ele nos dá e que sinto, cá dentro, à espera da eclosão.
AMEI, minha querida, como sempre!
Beijos friorentos.
Maria Mamede

10:55 da manhã  
Blogger Odilon said...

Sempre sabemos a medida em que merecemos a vida. Nem sempre aceitamos as limitações e, talvez desejamos o que não estamos preparados. Na beira do mar buscamos a compreensão.

Beijos

6:44 da tarde  
Blogger poetaeusou . . . said...

Este comentário foi removido pelo autor.

7:28 da tarde  
Blogger poetaeusou . . . said...

*
Mas que sei eu das folhas no outono
ao vento vorazmente arremessadas
quando eu passo pelas madrugadas
tal como passaria qualquer dono?
Eu sei que é vão o vento e lento o sono
e acabam coisas mal principiadas
no ínvio precipício das geadas
que pressinto no meu fundo abandono
Nenhum súbito lamenta
a dor de assim passar que me atormenta
e me ergue no ar como outra folha
qualquer. Mas eu sei que sei destas manhãs?
As coisas vêm vão e são tão vãs
como este olhar que ignoro que me olha
,
in-Ruy Belo
,
maré de simpatias
,
o comentário eliminado,
é meu, desculpa,
*

7:31 da tarde  
Blogger ~pi said...

somos tanto o que ele diz

(( mas depois dói tanto

não nos deixarem ser

(como se falta fosse,




beijo

11:20 da tarde  
Blogger Maria said...

Como comentar este poema?
Como falar do mar de Ruy Belo?

Obrigada, Ana.
Beijinhos

6:48 da tarde  
Blogger Amaral said...

Gostei da beleza dos últimos versos, onde muitas verdades espreitam sorridentes...
Somos crianças, sempre crianças com o mar por companheiro...

12:19 da manhã  
Blogger lupuscanissignatus said...

espraia-se

pelo

areal

do

pensamento

8:04 da tarde  
Blogger Isamar said...

Repito-me dizendo-te aquilo que já sabes, o mar e a poesia são duas paixões que alimentam o meu corpo e a minha alma.
Ruy Belo partiu cedo. Muito mais teria para nos dar.
Obrigada, amiga!
As imagens com que daqui saio, são sempre maravilhosas.

Beijinhos

7:03 da tarde  
Blogger © Maria Manuel said...

difícil comentar este poema, tão rico de sentidos.

10:09 da manhã  

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