A Concha
Foto de Alexandre NT aqui
A minha casa é concha. Como os bichos
Segreguei-a de mim com paciência:
Fachada de marés, a sonho e lixos,
O horto e os muros só areia e ausência.
Minha casa sou eu e os meus caprichos
O orgulho carregado de inocência
Se às vezes dá uma varanda, vence-a
O sal que os santos esboroou nos nichos.
E telhados de vidro, e escadarias
Frágeis, cobertas de hera, oh bronze falso!
Lareira aberta ao vento, as salas frias.
A minha casa... Mas é outra a história:
Sou eu ao vento e à chuva, aqui descalço,
Sentado numa pedra de memória.
Vitorino Nemésio
6 Comments:
Bonito este poema onde Vitorino Nemésio compara a sua casa a uma concha, aparentemente protectora, mas que descerra tudo o que ele foi... Bjinhos ;)
Por vezes a casa é protecção, concha. Outras vezes ficamos sujeitos às tempestades da memória. Beijinhos, Ana.
Belíssimo...já há muito que não revia este texto. Obrigada! Uma boa semana.
Beijos mil, BShell
Vitorino Nemésio igual a si próprio.
Afinal a nossa casa, somos, antes de mais, nós próprios, n é?
Lindíssimo, como qualquer uma das tuas escolhas.
Beijinho grande
Como é que eu tinha perdido este poema no teu blog e a fotografia?!
Ai, ai!
Beijos
Ohhhhhhh...
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