terça-feira, maio 16, 2006

Seria o amor português


Foto de Pedro Innocente aqui



Muitas vezes te esperei, perdi a conta,
longas manhãs te esperei tremendo
no patamar dos olhos. Que me importa
que batam à porta, façam chegar
jornais, ou cartas, de amizade um pouco
- tanto pó sobre os móveis tua ausência.

Se não és tu, que me pode importar?
Alguém bate, insiste através da madeira,
que me importa que batam à porta,
a solidão é uma espinha
insidiosamente alojada na garganta.
Um pássaro morto no jardim com neve.

Nada me importa; mas tu enfim me importas.
Importa , por exemplo, no sedoso
cabelo poisar estes lábios aflitos.
Por exemplo: destruir o silêncio.
Abrir certas eclusas, chover em certos campos.
Importa saber da importância
que há na simplicidade final do amor.

Comunicar esse amor. Fertilizá-lo.
"Que me importa que batam à porta..."
Sair de trás da própria porta, buscar
no amor a reconciliação com o mundo.

Longas manhãs te esperei, perdi a conta.
Ainda bem que esperei longas manhãs
e lhes perdi a conta, pois é como se
no dia em que eu abrir a porta
do teu amor tudo seja novo,
um homem uma mulher juntos pelas formosas
inexplicáveis circunstâncias da vida.

Que me importa, agora que me importas,
que batam , se não és tu, á porta?



Fernando Assis Pacheco

8 Comments:

Anonymous Anónimo said...

para mim este blogue devia entrar para a história como divulgador de poesia.

2:54 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Ana, Assis Pacheco em Poesia (confesso) nunca tinha lido (até aqui). Gostei e vou lêr mais. Do Assis guardo na memória (num cantinho especial) o seu livro, em prosa, "Trabalhos e Andanças de Benito Prada". Uma pérola.
Bjs

7:04 da tarde  
Blogger Lmatta said...

Lindo poema
gosto
Beijocas

8:13 da tarde  
Blogger Daniel Aladiah said...

Querida Ana
A ansiedade e o mistério do desejo que pode ou não estar à porta...
Um beijo
Daniel

11:09 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

Ana, agradeço a passagem no meu cais e o teu comentário. Os olhos sáo ,para mim, o inicio e o fim de todo o sentimento. Os olhos, fixos, matreiros, fugidios, a falarem...a dizerem o quê?.bjs

8:27 da tarde  
Blogger lena said...

Ana, entro e encontro um dos mais belos poemas de Fernando Assis Pacheco

e que importa?

divulgas a poesia e é tão belo senti-la aqui

atrevo-me a deixar para ti:


COM A TUA LETRA

Porque eu amo-te, quer dizer, estou atento
às coisas regulares e irregulares do mundo.
Ou também: eu envio o amor
sob a forma de muitos olhos e ouvidos
a explorar, a conhecer o mundo.

Porque eu amo-te, isto é, eu dou cabo
da escuridão do mundo.
Porque tudo se escreve com a tua letra.

Fernando Assis Pacheco


beijinhos para ti e um abraço meu,

lena

10:09 da tarde  
Blogger Amaral said...

Como Assis Pacheco diz coisas bonitas!...
Um fim de semana com muita paz, ternura no olhar e amor no pensamento e nas acções.

1:39 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Olá Ana...
Primeiro de tudo agradecer as tuas palavras na Galeria que foram e são muito sentidas...
Por aqui na Encosta com este poema o mar ficou mais azul,mais ternurento mas bastante profundo e disso não devemos de ter receio porque quando se mergulha ao contrário ou seja do fundo do mar para cima e vemos lindas pessoas...acho que o mar se junta realmente á terra...
Um Beijinho fica bem...

9:47 da tarde  

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