terça-feira, outubro 31, 2006

O deserto inominável



Lembrando Merzouga...




O deserto é o silêncio depois do mar,
É o êxtase da luz sobre o coração da areia.
Vai-se e volta-se e nada se esquece.
Tudo se oculta para depois se dar a ver
No ponto em que os ventos se cruzam
E as almas gritam no fundo dos poços.
Os cestos sobem e descem prometendo água,
Uma frescura que derrete a febre.
Não são as tâmaras que adoçam a boca,
É a beleza das mulheres dissimulando
O desejo como um pecado sob a escuridão dos véus.
As serpentes assobiam ou cantam
Conforme o veneno que lhes molda o sangue,
Enroscam-se sobre as pedras
como fragmentos de lua à espera da manhã.
E a sombra alonga-se nas dunas
Ondulando rente às palmeiras
Como a última cobra do medo das crianças.
Não há ruído maior que este silêncio
Que se serve com tâmaras e com chá
Na mesa rasteira, sobre a terra molhada.
É no que não se nomeia que está o infinito.



José Jorge Letria

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9 Comments:

Blogger Daniel Aladiah said...

Querida Ana
Tenho uma história em que essa parte do deserto aparece... :)
Um beijo
Daniel

7:26 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Que maravilha!!!
Adoro este poema,estou.... encantada!
um beijo
M

7:52 da manhã  
Blogger Heloisa B.P said...

"O deserto é o silêncio depois do mar,
É o êxtase da luz sobre o coração da areia.
Vai-se e volta-se e nada se esquece.
Tudo se oculta para depois se dar a ver
No ponto em que os ventos se cruzam
E as almas gritam no fundo dos poços."
***********************UN INICIO MARAVILHOSO e.. o resto vai no mesmo *TOM*!!!!!!LINDISSIMO!!!!!!
E a FOTO??? nem vale a pena andar aqui as voltas com BONS ADJECTIVOS:BASTA OLHAR!!!!!!
********************************Minha AMIGA*, meu Abraco AQUI* Lhe deixo!
Ca' voltarei, mal possa!
BEIJINHO>
Sua Amiga,
Heloisa
***********

9:42 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

O Deserto traz (sem o reconhecermos) a solidão interior que tanto procuramos (ás vezes). É, em certa medida, a transformação real do deserto que tantos de nós percorremos....
Gostei.
Bjs

2:14 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Blogue duma estética irrepreensível, comprometido com a beleza da vida, a merecer mais e constantes visitas no futuro. Gostei imenso desta página elegante. Bom fim-de-semana.

2:51 da tarde  
Blogger Kalinka said...

Huummmm....
Foi dos momentos mais inesquecíveis da minha Vida, o tempo que passei no deserto...

Deserto e Mar - dois lugares onde me sinto na plenitude.
Vai-se e volta-se e nada se esquece.
Tâmaras - recordo-me da viagem à Tunísia, maravilhosa.
Serpentes - recordo-me da recente viagem a Marrocos - Marraquexe.

Ana, muito obrigado por me fazeres recordar momentos únicos.
Bom fim de semana. Beijo.

12:06 da tarde  
Blogger DE-PROPOSITO said...

Um poema que não conhecia. Aliás pouco conheço da obra deste poeta.
Quero que a felicidade ande por aí.
Fica bem.
Manuel

5:06 da tarde  
Blogger Bárbara Quaresma said...

Foi um dos dias mais felizes da minha vida aquele que passei no deserto, no Egipto... Por momentos esqueci-me da vida!

9:27 da tarde  
Blogger Maria said...

O deserto é um mar imenso, dourado!

12:56 da tarde  

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