Foto de Pedro Ferreira
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Volto amanhã à consulta. Desta vez, para mostrar as últimas análises e averiguar da evolução prevista para os próximos tempos. Conforme espero, e depois dos últimos três tratamentos, feitos no espaço de um mês, os valores devem estar dentro de limites aceitáveis, embora longe do normal.
Esta doença, que não tem cura, evolui, mais ou menos, lentamente. Não se conhecendo as causas, estas não podem ser controladas. Apenas se podem controlar, e até certos limites, algumas das consequências. Para isso, se fazem, periodicamente, tratamentos que, sendo necessários, deixam um enorme cansaço, do qual me irei agora, lentamente, recompor. Mas como a evolução não pára, terei de voltar dentro de algumas semanas e tudo recomeçará.
É uma luta desigual, da qual sei quem será o vencedor. Isso não me faz desistir. Claro que há momentos em que me apetece baixar os braços e, simplesmente, deixar-me afundar. Mas aprendi que temos muito mais forças do que aquelas que suspeitávamos.
Aprendi também que, na vida, não se pode perder nem um instante. Todos eles são irrepetíveis. Sei que não é possível recuperar cada momento perdido, cada gota de felicidade desperdiçada. Por isso, agora, dou mais valor ao momento que passa, ao sorriso dos que se cruzam comigo, a cada pôr-do-sol que me é permitido apreciar. Deixei de guardar para amanhã as palavras bonitas que posso dizer hoje, e passei a ouvir o canto do melro, que sempre habitou o meu jardim sem eu dar por ele.
A única coisa que existe é o presente. O passado deixa-nos memórias, mas não pode ser alterado. O futuro ainda não é, talvez até nunca seja. O que temos de viver, e com intensidade, é o dia de hoje. É isso que tento fazer, sem remorsos, nem expectativas.
E foi isso que a adversidade me ensinou. Até as coisas que parecem negativas, têm o seu lado positivo.
Obrigada a todos que, aí, do outro lado do monitor, me escutam e me acompanham. Cada dia que passa é mais uma etapa da minha caminhada e, sem o saberem, tem sido com a vossa ajuda que prossigo.
O voo das gaivotas continua a ser livre, como os sonhos que continuo a sonhar.
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