segunda-feira, fevereiro 16, 2009

Mar, mar e mar


Foto de Alex



Tu perguntas, e eu não sei,
eu também não sei o que é o mar.

É talvez uma lágrima caída dos meus olhos
ao reler uma carta, quando é de noite.
Os teus dentes, talvez os teus dentes,
miúdos, brancos dentes, sejam o mar,
um mar pequeno e frágil,
afável, diáfano,
no entanto sem música.

É evidente que minha mãe me chama
quando uma onda e outra onda e outra
desfaz o seu corpo contra o meu corpo.
Então o mar é carícia,
luz molhada onde desperta
meu coração recente.

Às vezes o mar é uma figura branca
cintilando entre os rochedos.
Não sei se fita a água
ou se procura
um beijo entre conchas transparentes.

Não, o mar não é nardo nem açucena.
É um adolescente morto
de lábios abertos aos lábios de espuma.
É sangue,
sangue onde a luz se esconde
para amar outra luz sobre as areias.

Um pedaço de lua insiste,
insiste e sobe lenta arrastando a noite.
Os cabelos de minha mãe desprendem-se,
espalham-se na água,
alisados por uma brisa
que nasce exactamente no meu coração.
O mar volta a ser pequeno e meu,
anémona perfeita, abrindo nos meus dedos.

Eu também não sei o que é o mar.
Aguardo a madrugada, impaciente,
os pés descalços na areia.



Eugénio de Andrade
(in As palavras interditas)



Para ti, Alex, escolhi este poema para ilustrar a tua foto, memória de uma viagem que o tempo não apaga.

.

16 Comments:

Blogger pico minha ilha said...

O mar que tanto me diz, acho que o mar tem música sim, é preciso é ouvi-la.Beijinho

12:10 p.m.  
Blogger Maria said...

Que influência boa o mar exerce em nós! Nunca poderia viver sem ele...
O mar é música, é amor, é Vida!

E que foto fantástica, parabéns ao alex.
Obrigada por este poema de Eugénio.

Beijinho, Ana

12:51 p.m.  
Blogger Isabel José António said...

Querida Amiga Ana,

Parabéns, mais uma vez, pelo bom gosto da escolha do poeta e do poema.

O mar é quase o símblo da vida UNA que tudo percorre, penetra e impulsiona. A sua viagem de ir vir, sem fim, dá-nos a imagem da imensidade, da infinitude, da mudança que é constante, como diz António Gedeão.

Um grande abraço

José António

3:46 p.m.  
Blogger Mare Liberum said...

O Mar, indispensável na minha vida, é uma paixão.

Beijos de maresia, amiga.

Bem-hajas!

9:49 p.m.  
Blogger MARIPA said...

"Mar,mar e mar" poema com aroma de maresia a envolver quem lê...

Embora não pertinho dele,sinto a sua presença em mim.

Eugénio de Andrade ,bem-hajas.
A foto de Alex,excelente.

Beijo,Ana e o meu carinho.

3:26 a.m.  
Blogger Lmatta said...

bela foto
lindo poema
beijos

3:54 p.m.  
Anonymous Anónimo said...

o mar...minha casa e o desconheço por completo, mas sempre ali, pronto para desvendar seus mistérios. poema lindo demais, Ana. beijo.

6:51 p.m.  
Anonymous Anónimo said...

Mar!
Onde posso beber sol e liberdade
longe de angústias e de medos.
Sentar-me no colo dos rochedos,
perder-me no azul que me invade
e contar ao mar os meus segredos!

Um beijo Ana!

(Vai ao Poliedro):))

8:11 p.m.  
Blogger Amaral said...

Também não sei o que é o mar...
Tomara que ele fosse o que é e o que não é! Será, sim, se for do Todo e se, com Ele, beber da mesma fonte e, sendo, morar os céus de outros mares...

8:50 p.m.  
Anonymous Anónimo said...

Ola, tudo bem?Vamos fechar parceria entre nossos blogs, trocando links, ou banners?É uma boa oportunidade para atrair novos leitores.Aguardo resposta para adicionar seu link, super abraço.

http://poemasepoesias-blog.blogspot.com/

10:07 p.m.  
Blogger ~pi said...

o mar é a in-clinação

in-finita

dos líquidos

(o mar




beijo





~

11:02 a.m.  
Blogger poetaeusou . . . said...

*
mar, mar e mar,
palavras (inter)ditas
de
eugénio de andrade,
,
um mar de conchinhas,
deixo,
,
*

1:16 p.m.  
Blogger delusions said...

É sangue,
sangue onde a luz se esconde
para amar outra luz sobre as areias.



adoro essa poema. e a fotografia é, de facto, muito bela. como o mar.



bjinhos*
Sofia

2:15 p.m.  
Blogger Rafael Castellar das Neves said...

Muito bom o seu blog....gostei muito do que encontrei por aqui e ele realmente tem o clima "costeiro".

Parabéns!!

4:19 p.m.  
Blogger Emanuel Azevedo said...

Trabalho fotográfico muito bem feito.
Gostei particularmente do poema.
Os meus parabéns! Um forte abraço dos Açores.

11:16 p.m.  
Blogger De Amor e de Terra said...

A beleza sempre doce e nostalgica
dos Poemas de Eugénio de Andrade!
Belo Amiga.

Um beijo enorme


Maria Mamede

3:26 p.m.  

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