domingo, março 27, 2011

Vê como a boca é triste

Por erro meu, ou avaria no Blogger, o poema anterior não ficou com o aspecto gráfico original. Não quero apagá-lo, visto já ter comentários que não quero perder. Tentarei corrigir, quando a anomalia estiver resolvida. As minhas desculpas à autora do poema e a quem o lê.
Ana

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Os meus agradecimentos ao autor do blog  De proposito, que amavelmente me sugeriu a maneira de corrigir o aspecto gráfico do post anterior. Obrigada, Manuel ! Que seria de nós sem os amigos ?
Ana

sábado, março 26, 2011

Vê como a boca é triste

Foto de Christiane Anna K



Vê como a boca é triste
quando sorri a distância;

quando o inverno das asas
já atravessa os espaços e
cava na terra a sombra de uma
ausência.

Prova difícil é crermos no azul.




Luísa Freire
(in O Tempo de Perfil)

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sábado, março 19, 2011

Aconselho-vos o amor

Foto de Jason Abrahamson



Aconselho-vos o amor:
o equilíbrio dos contrários.
Aconselho-vos o amor
cheio de força; os moínhos
girando ao vento desbridado.
Aconselho-vos a liberdade
do amor (que logo passa
-vão dizer-vos que não -
para os gestos diários).

ACONSELHO-VOS A LUTA



Fernando Assis Pacheco
(in A Musa Irregular)

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sábado, março 12, 2011

Devias estar aqui

Foto de Ricky Siegers



Devias estar aqui rente aos meus lábios
para dividir contigo esta amargura
dos meus dias partidos um a um.

- Eu vi a terra limpa no teu rosto,
Só no teu rosto e nunca em mais nenhum.



Eugénio de Andrade

domingo, março 06, 2011

Visita-me enquanto eu não envelheço

Amedeo Modigliani (Jeanne Hébuterne à cloche)



visita-me enquanto eu não envelheço
toma estas palavras cheias de medo e surpreende-me
com o teu rosto de Modigliani suicidado

tenho uma varanda ampla cheia de malvas
e o marulhar das noites povoadas de peixes voadores
vem

ver-me antes que a bruma contamine os alicerces
as pedras nacaradas deste vulcão a lava do desejo
subindo à boca sulfurosa dos espelhos
vem

antes que desperte em mim o grito
dalguma terna Jeanne Hébuterne a paixão
derrama-se quando tua ausência se prende às veias
prontas a esvaziarem-se do rubro ouro

perco-te no sono das marítimas paisagens
estas feridas de barro e quartzo
os olhos escancarados para a infindável água
vem

com teu sabor de açúcar queimado em redor da noite
sonhar perto do coração que não sabe como tocar-se


Al Berto
(in O Medo)