sábado, junho 30, 2007

Raríssimas



Através da Sonhadora tive conhecimento da Raríssimas. É uma associação que existe para apoiar doentes,e suas famílias e amigos, que convivem de perto com doenças raras.

A campanha do Trevinho, que agora decorre, tem o objectivo de obter ajuda para a construção de uma residência para jovens com deficiências mentais e raras.

Existem pessoas raras com necessidades raras.

Está na nossa mão ajudá-las. Há sonhos que se podem concretizar, se todos nos solidarizarmos.


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quinta-feira, junho 28, 2007

Creio nos anjos que andam pelo mundo


The tree of life (Gustav Klimt)



Creio nos anjos que andam pelo mundo,
creio na deusa com olhos de diamantes,
creio em amores lunares com piano ao fundo,
creio nas lendas, nas fadas, nos atlantes;

creio num engenho que falta mais fecundo
de harmonizar as partes dissonantes,
creio que tudo é eterno num segundo,
creio num céu futuro que houve dantes,

creio nos deuses de um astral mais puro,
na flor humilde que se encosta ao muro,
creio na carne que enfeitiça o além,

creio no incrível, nas coisas assombrosas,
na ocupação do mundo pelas rosas,
creio que o amor tem asas de ouro. Amén.


Natália Correia


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segunda-feira, junho 25, 2007

Douro






Rio lento, deslizando
entre socalcos e vinhas
de raízes em xisto frio,
ou saltando entre fragas,
margens, memórias de dor,
que a alma pinta de verde,
poema feito em pedra,
como alguém soube cantar.

És a imagem da vida
percorrida sem se deter,
sempre a caminho da foz,
em busca de outro mar.




Mesão Frio
Junho 2007



A ti, Alex, por me teres levado, por uns dias, ao encontro de um mundo de serenidade.

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quarta-feira, junho 20, 2007

(...)






Queria de ti um país de bondade e de bruma

queria de ti o mar de uma rosa de espuma.




Imagem e poema de Mário Cesariny



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sábado, junho 16, 2007

Gaivotas - II

Foto de Pedro Ferreira aqui


Gosto muito de palavras. Gosto de as ver voar com as asas que os poetas lhes dão. Por vezes, gosto até de as arrumar com os meus dedos inábeis.
Há algum tempo atrás, foi-me apresentada uma palavra nova. Policitemia. No próprio dia em que a conheci, fez-me uma estranha declaração de fidelidade. “Serei tua até ao fim da vida.” Por muito que me custe, tinha razão. Desde essa altura, nunca mais me deixou. Não gosto de falar dela. Tento esquecer que a roleta da vida a fez presente em todos os meus dias. Há alturas em que consigo mesmo empurrá-la para os confins da memória. Mas ela volta, inflexível.
É, apenas, uma palavra, feia e rara. Mas tem o seu lado positivo. Faz tornar mais belas as palavras de que gosto. Mais vulgares, encerram, no entanto, a beleza que a Vida proporciona... Liberdade, Amor, Poesia, Mar. Estas guardo-as em mim e sei que, também, nunca me abandonarão. Tal como o voo das gaivotas.


Foi o Platero , com quem, por acaso, me cruzei nestas rotas da blogosfera, que, com o seu exemplo e a sua força, me deu coragem para falar da minha palavra feia. Espero que para ele todas as palavras tenham a cor da esperança. Porque as imagens que ele capta têm de ter a legenda que merecem.


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segunda-feira, junho 11, 2007

As palavras


São como um cristal,
as palavras.
Algumas, um punhal,
um incêndio.
Outras,
orvalho apenas.

Secretas vêm, cheias de memória.
Inseguras navegam;
barcos ou beijos,
as águas estremecem.

Desamparadas, inocentes,
leves.
Tecidas são de luz
e são a noite.
E mesmo pálidas
verdes paraísos lembram ainda.

Quem as escuta? Quem
as recolhe, assim,
cruéis, desfeitas,
nas suas conchas puras?



Eugénio de Andrade


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quarta-feira, junho 06, 2007

Carta a Ângela

Foto de Gaylen Morgan aqui


Para ti, meu amor, é cada sonho
de todas as palavras que escrever,
cada imagem de luz e futuro,
cada dia dos dias que viver.

Os abismos das coisas , quem os nega,
se em nós abertos inda em nós persistem?
Quantas vezes os versos que te dei
na água dos teus olhos é que existem!

Quantas vezes chorando te alcancei
e em lágrimas de sombra nos perdemos!
As mesmas que contigo regressei
ao ritmo da vida que escolhemos!

Mais humana da terra dos caminhos
e mais certa, dos erros cometidos,
foste , de novo, e de sempre, a mão da esperança
nos meus versos errantes e perdidos.

Transpondo os versos vieste à minha vida
e um rio abriu-se onde era areia e dor.
Porque chegaste à hora prometida
aqui te deixo tudo, meu amor!


Carlos de Oliveira

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sábado, junho 02, 2007

Nada do que amo me dá o que quero



Nada do que amo me dá o que quero
por isso não amo
nem o amor
nem o sonho
nem a pintura
e os pintores
os heróis e o seu heroísmo,
nem estes meus poemas
copo de água fresca
que mais aumenta a sede.

Amo o que não amo
em todas estas coisas,
e indefinidamente
no fundo de tudo
amo a poesia e os poetas
que dão sempre mais
sempre muito mais
do que peço,
como tu,
mesmo eternamente ausente,
meu amor.


Imagem e poema de Cruzeiro Seixas


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