Casa da Avó / Maia, Setembro, 15
Uma vez mais te esperei para o almoço
e não vieste!
Tirei as plantas do sol
que está muito forte
e coloquei na mesa
a melhor toalha de linho
(tinha que ser de linho)
aquela bordada
onde as papoilas parecem ter vida;
E não vieste!
O sol, há muito que se foi...
Voltei a colocar as plantas lá fora
para que possam receber
os seus primeiros raios
quando chegar.
Dei leite à gata
e aferrolhei a porta.
Deixei na mesa a toalha de linho
bordada com papoilas
à espera que amanhã
a primavera
te traga para o almoço!...
Maria Mamede
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Aranjuez, Setembro, 15
Não sei porquê
hoje lembrou-me que
puzeste na mesa
aquela toalha de linho
onde as papoilas vermelhas
são beijadas pelo sol bordado
que te sai das mãos!...
Quis afastar esse pensamento
e fui até à margem do rio,
junto das margaridas que tanto gostavas...
Dei por mim a relembrar os tempos idos,
os nossos segredos,
os sonhos perdidos,
as histórias de amor,
os dias mais felizes...
E tudo parece que rebrilha
como pedrinhas de cor
entre as raízes...
Quem sabe, amanhã será primavera!...
Albino Santos
Por vezes a poesia nasce assim, do diálogo entre pessoas afastadas no espaço, mas não no sentir.
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