sexta-feira, fevereiro 27, 2009

Natureza viva


Foto de Paolo Giudici
(www.onexposure.net)


Gosto de sentir a natureza e fingir
que não lhe pertenço.
A mão gigante do vento vai sacudindo o carro

contra o mar
com grandes chapadas brancas.

Não é o mundo que tenho na cabeça
as gotas de água que embaciam o vidro
e o véu da chuva o da noiva submissa.

As palavras não querem ser irmãs das ondas
e o meu silêncio não é filho
desta tempestade.

Mas como é belo
que tudo viva na luta de viver.
A fúria da maré no espelho do meu rosto
como um poema de Pedro Homem de Mello.

O som mais natural
dá-me a nitidez dos choros suicidas
e transporta no tempo
esse luxo dos homens que se chama
esperança.

No céu baila e divaga mais uma gaivota.
No chão perto do mar
outro baile circunda o coração.
Mas nunca saberei como se dança.



Armando Silva Carvalho
(in Lisboas)


.

12 Comments:

Blogger Mare Liberum said...

Uma imagem lindíssima! O azul do céu e o azul do mar ligados por uma névoa que anuncia tempestade. Ou talvez não.
"Mas como é belo
que tudo viva na luta de viver."

Esta luta incessante faz parte da vida. Umas vezes bela outras nem tanto.

Beijinhos mil, amiga Ana!

Bem-hajas!

8:10 da manhã  
Blogger Amaral said...

Um poema de Homem de Mello cavalga qualquer maré...
A dança duma gaivota, essa, é bem difícil de imitar... Duvido que alguém consiga acompanhar a dança duma gaivota... E o som das marés, o chapinhar duma onda?...
É bela a luta de viver!...

9:58 da manhã  
Blogger © Maria Manuel said...

belo poema sobre a relação entre o homem e a natureza.

beijo, Ana.

10:36 da manhã  
Blogger Daniel Aladiah said...

Querida Ana
Uma poesia linda de conteúdo, quanto pequenos somos no meio duma tormenta...
Um beijo
Daniel

3:29 da tarde  
Blogger Maria said...

A fotografia é lindíssima, vê-se a chuva cair ao longe...
Por mim não me importava que as minhas palavras fossem irmãs das ondas... e o meu silêncio é filho
desta tempestade...

Beijinhos, Ana

7:41 da tarde  
Blogger MARIPA said...

Belos, poema e imagem.

As tormentas da natureza e as dos homens.
O mar e a dança das gaivotas.
A esperança... luxo na luta de viver...

Beijo carinhoso,Ana.

8:36 da tarde  
Blogger De Amor e de Terra said...

Olá Ana; obrigada Amiga pelas palavras. Muito belo este Poema de desesperança; muito belo mesmo.

Beijos

Maria Mamede

12:04 da tarde  
Blogger A.S. said...

Olá Ana,

Um belo poema que nos acorda para a realidade tantas vezes esquecida!
Conforta-nos saber que depois da tempestade virá sempre a bonança...

Um abraço

4:27 da tarde  
Blogger Cadinho RoCo said...

É tão estranhos lembrar dos voos didtantes e que não voamos.
Cadinho RoCo

10:14 da tarde  
Blogger Maria Clarinda said...

Linda partilha...adorei. Obrigada
Jinhos

9:06 da manhã  
Blogger Lmatta said...

lindo poema para uma linda foto
beijos

12:16 da tarde  
Blogger O Profeta said...

Mudei os meus mais profundos desejos
Vi reflectida em ti a ternura
Não há derrota no sonho
Não há revolta, apenas brandura

O julgamento dos teus fracassos
É feito numa lagoa sem azul
Um milhafre lança um pio de raiva
Que atinge o branco das casas do sul


Boa semana


Mágico beijo

12:42 da tarde  

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