A morte afinal não custa nada
A morte afinal não custa nada, diz-me
a minha voz insensata como se
já lá tivesse estado. E logo te transmito
o que a minha voz me disse, porque
uma coisa destas merece ser divulgada.
Agora a saudade de te ter tido
junto de mim algum tempo esbarra
com preocupações e raiva
sobre como o mundo está.
Uma lástima, acrescentas, e o pior
está para vir. Quanto a nós, não sei:
a vida dá muitas voltas, quem sabe
o que pode acontecer. Mas este futuro
assim misterioso é ainda mais triste
do que qualquer passado triste.
Quem me dera que dissesses
presente quando fosse preciso.
Sem amor a gente anda por aqui
a gemer de dor por dentro, é a verdade
pura e simples e o resto é conversa.
Já que o mundo está como está
ao menos que o lastimássemos a dois.
Helder Moura Pereira
(in Mútuo Consentimento)
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