domingo, junho 27, 2010

O outro - Mário de Sá-Carneiro

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... na esplêndida voz de Adriana Calcanhoto.

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terça-feira, junho 22, 2010

Faltas-me . ...

Empty room ( Edward Hopper)



Faltas-me. Se aqui estivesses isto não seriam
palavras. Um trinco por dentro, essa ilusão
de voltar a ti olhando os papéis, desconheço
o que de mim resta quando as horas quase trazem
o silêncio e a boca se abre, faz a passagem
do teu corpo a um corpo que aproveita
a substituição que não sabe. Mudaremos o tempo
para nenhuma exigência, faltas-me quando estás
a caminho, já oiço os teus passos subindo
no fundo da escada. Amanhece. Nos sonhos
que não sou capaz de lembrar vens tocar-me
nos ombros e dizer ainda não são horas, ainda
não é alba. As palavras faltam-me, vou
calar-me nas duas voltas da chave, este papel
apagado, sujo da ausência dos teus gestos.




Helder Moura Pereira
(in De novo as sombras e as calmas)


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quinta-feira, junho 17, 2010

Difícil poema de amor

Foto de Dariusz Klimczak




Separo-me de ti nos solstícios de verão, diante da mesa do juiz supremo dos amantes.

(...)

Virás quando houver uma fala indestrutível devolvida à boca dos mais vivos. Então virás vivo também. Sempre esperei ver-te ressuscitado. Desiludiste-me.

(...)

Calo-me.
Reparei de repente que não estavas aqui. Pus-me a falar a falar. Coisas de mulher desabitada.

(...)

É a altura de escrever sobre a espera. A espera tem unhas de fome, bico calado, pernas para que as quer. Senta-se de frente e de lado em qualquer assento. Descai com o sono a cabeça de animal exótico enquanto os olhos se fixam sobre a ponta do meu pé e principiam um movimento de rotação em volta de mim em volta de mim ... de ti.

Nunca te conheci - assim explico o teu desaparecimento.

(...)



Luiza Neto Jorge
(in Poesia - Assírio & Alvim)

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sábado, junho 12, 2010

Lamento pela morte de S. João da Cruz



Marcham
silenciosas
pelo fim da tarde
as últimas palavras
do amor



Mário Rui de Oliveira

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sábado, junho 05, 2010

Eu não procuro nada em ti

Foto de Dave Nitsche aqui



Eu não procuro nada em ti,
nem a mim próprio, é algo em ti
que procura algo em ti
no labirinto dos meus pensamentos.

Eu estou entre ti e ti,
a minha vida, os meus sentidos
(principalmente os meus sentidos)
toldam de sombras o teu rosto.

O meu rosto não reflecte a tua imagem,
o meu silêncio não te deixa falar,
o meu corpo não deixa que se juntem
as partes dispersas de ti em mim.

Eu sou talvez
aquele que procuras,
e as minhas dúvidas a tua voz
chamando do fundo do meu coração.



Manuel António Pina


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terça-feira, junho 01, 2010

Não sabes, leitor, ...

Óleo de Maria Azenha


Não sabes, leitor, como estou rodeada de silêncio
há uma ave onde este texto se apoia.
fecho os olhos, e o poema traz para este lugar
o búzio dos cofres

escrevo em filigranas de ar
secretas harpas de sombras
onde as primeiras letras ousam pousar.
durante anos treinei o lúmen do coração
em cântaros de sol subindo os primeiros degraus

depois habituei-me à confidência das aves
pousada na inteligência dos bosques
movidos a vento e água.
acácias entre mãos

por último a ciência da respiração
no sumo das auroras




Maria Azenha
(in de amor ardem os bosques)

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