Encontro
Almada Negreiros
Que vens contar-me
se não sei ouvir senão o silêncio?
Estou parado no mundo.
Só sei escutar de longe
antigamente ou lá para o futuro.
É bem certo que existo:
chegou-me a vez de escutar.
Que queres que te diga
se não sei nada e desaprendo?
A minha paz é ignorar.
Aprendo a não saber:
que a ciência aprenda comigo
já que não soube ensinar.
O meu alimento é o silêncio do mundo
que fica no alto das montanhas
e não desce á cidade
e sobe às nuvens que andam à procura de forma
antes de desaparecer.
Para que queres que te apareça
se me agrada não ter horas a toda a hora?
A preguiça do céu entrou comigo
e prescindo da realidade como ela prescinde de mim.
Para que me lastimas
se este é o meu auge?!
Eu tive a dita de me terem roubado tudo
menos a minha torre de marfim.
Jamais os invasores levaram consigo as nossas torres de marfim.
Levaram-me o orgulho todo
deixaram-me a memória envenenada
e intacta a torre de marfim.
Só não sei que faça da porta da torre
que dá para donde vim.
José de Almada Negreiros
(in Poemas , Assírio e Alvim)
Que vens contar-me
se não sei ouvir senão o silêncio?
Estou parado no mundo.
Só sei escutar de longe
antigamente ou lá para o futuro.
É bem certo que existo:
chegou-me a vez de escutar.
Que queres que te diga
se não sei nada e desaprendo?
A minha paz é ignorar.
Aprendo a não saber:
que a ciência aprenda comigo
já que não soube ensinar.
O meu alimento é o silêncio do mundo
que fica no alto das montanhas
e não desce á cidade
e sobe às nuvens que andam à procura de forma
antes de desaparecer.
Para que queres que te apareça
se me agrada não ter horas a toda a hora?
A preguiça do céu entrou comigo
e prescindo da realidade como ela prescinde de mim.
Para que me lastimas
se este é o meu auge?!
Eu tive a dita de me terem roubado tudo
menos a minha torre de marfim.
Jamais os invasores levaram consigo as nossas torres de marfim.
Levaram-me o orgulho todo
deixaram-me a memória envenenada
e intacta a torre de marfim.
Só não sei que faça da porta da torre
que dá para donde vim.
José de Almada Negreiros
(in Poemas , Assírio e Alvim)
12 Comments:
Belo registo! poema e imagem como ele sabia!
É sempre um prazer visitar este seu cantinho! Beijinhos.
Querida Ana
Aqui está alguém que sempre apreciei, principalmente por causa do Dantas...
Um beijo
Daniel
Pois...
É preciso um olhar especial para encontrar tão belas poesias.
Obrigada pela partilha.
Achas que dá gozo andar na roda gigante?
É uma ideia levar lá as tuas netas.
Aposto como elas iam gostar.
Vem espreitar
...a paisagem é interessante,
mas NÃO olhei para baixo...
por causa das vertigens,
mas fiz do receio - coragem/força,
para poder proporcionar um bom momento aos meus netos.
Obrigado pela tua Amizade
e pelos comentários.
Abraços.
talvez trancar a porta da torre e dela não mais sair senão com o pensamento. pois que não há realidade maior que a do pensamento. quase tudo passa por ele.
ou talvez sair para o mundo. contemplar a cor dos desalentos. saber que há alguém que nos habita e que habitamos no abismo dos dias. saber que o amor não existe no sonho nem na torre de marfim mas no confronto com o desprazer.
resignação?!... caminho último da esperança e da razão que dá forma à poesia.
obrigada pela sempre bela partilha,
beijo,
isabel :)
Lindooooo! Poema e imagem! É um prazer recordar Almada Negreiros. Inesquecível enquanto por cá andar.
Beijinhos
Bem-hajas!
É fundamnetal o Almada. Tenho esse livro da Assirio e para quem gosta recvomendo também o fabuloso "Nome de Guerra".
Bj
Tão belo o poema de alguém que ama o silêncio e a paz de que desfruta na sua torre de marfim, refúgio inviolável ainda que se deixe a porta aberta.
Beijos.
É tão 'enorme' Almada Negreiros!
Gosto sempre das tuas escolhas, porque sinto que poderiam ser as minhas.
Beijo de imenso carinho, minha querida amiga.
a grandiosidade das palavras (E) das imagens.
oi. tudo blz? estive por aqui dando uma olhadela. muito legal. gostei. apareça por la. abraços.
gostei bastante.....e este inconformismo e revolta do ALMADA!!!
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