As palavras interditas
Foto in Público
Os navios existem e existe o teu rosto
encostado ao rosto dos navios.
Sem nenhum destino flutuam nas cidades,
partem no vento, regressam nos rios.
Na areia branca, onde o tempo começa,
uma criança passa de costas para o mar.
Anoitece. Não há dúvida , anoitece.
É preciso partir, é preciso ficar.
Os hospitais cobrem-se de cinza.
Ondas de sombra quebram nas esquinas.
Amo-te... E abrem-se janelas
mostrando a brancura das cortinas.
As palavras que te envio são interditas
até, meu amor, pelo halo das searas;
se alguma regressasse, nem já reconhecia
o teu nome nas minhas curvas claras.
Dói-me esta água, este ar que se respira,
dói-me esta solidão de pedra escura,
e estas mãos nocturnas onde aperto
os meus dias quebrados na cintura.
E a noite cresce apaixonadamente.
Nas suas margens vivas, desenhadas,
cada homem tem apenas para dar
um horizonte de cidades bombardeadas.
Eugénio de Andrade
5 Comments:
Lembrá-lo-emos sempre. Leremos uma vez e outra as suas palavras. E serão sempre fonte de beleza. Beijinhos, Ana
Vai-se o o "Eu", mas fica o "Génio", para sempre vivo nas suas palavras.
UM ABRACO MINHA AMIGA!
E... os *POETAS*, nao MORREM, so' oseu "corpo", deixa de ser visivel por nos!
Heloisa.
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Espaço de alma
distancia de luz
equilibrio
Fundo, forma
reflexo, cor
espaço de luz
nterior
o poeta continuará sempre... no interior de cada um.
beijinhos
vento
"Subterrâneo Rio
Surdo, subterrâneo rio de palavras
me corre lento pelo corpo todo;
amor sem margens onde a lua rompe
e nimba de luar o próprio lodo.
Correr do tempo ou só rumor do frio
onde o amor se perde e a razão de amar
surdo, subterrâneo, impiedoso rio,
para onde vais, sem eu poder ficar?"
Eugénio de Andrade
Ana, o meu beijo de saudade e de profunda amizade.
Porque tu és um ser humano excepcional.
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