Madeira
Foto de Rui Delgado aqui
Quero beijar os teus lábios de pedra,
a água azul e profunda onde os teus
seios sem mácula se unem às minhas
mãos,
quero fundir-me em ti,
minha doce amante do desejo antigo,
quero mergulhar nos cabelos húmidos das
tuas raízes,
quero subir lentamente o teu corpo frio,
fendido,
quero fazer em ti,
nos teus jardins inclinados,
um país de filhos belos, de animais de
silêncio e bondade,
quero regressar a ti,
ao mistério das levadas, das falésias,
dos ventos que batem nos pássaros de aço
e nas tuas tranças,
quero que me toques amorosamente com
os teus dedos esguios,
com as tuas canas doces,
quero o mel, a estrelícia, o pão escuro sobre
as mesas de toalhas loucas bordadas pelas
mulheres de outrora,
senhoras nossas das dores e do entardecer,
quero levar-te comigo para além, para
sempre,
quero que deixes em mim o fruto das tuas
árvores da alegria,
todos os sinais da ternura que o tempo não
consumiu,
minha eterna amante junto ao mar,
quero morrer em ti,
e em ti nascer de novo.
José Agostinho Baptista
(Para o Duarte , porque penso que gostará de ler (reler?) este poema que fala da sua terra de magia.)
7 Comments:
Descobri a Encosta do Mar há pouco tempo, mas é de facto um recanto poético muito agradável. Parabéns pelas tuas excelentes escolhas, Ana. Gostei deste poema em particular, pelo facto da Madeira ter um grande significado para mim...
Rute G.
Descobri a Encosta do Mar há pouco tempo, mas é de facto um recanto poético muito agradável. Parabéns pelas tuas excelentes escolhas, Ana. Gostei deste poema em particular, pelo facto da Madeira ter um grande significado para mim...
Rute G.
Da Madeira, apenas o ogre devia ser expulso. Então seria o paraíso.
Beijinhos minha querida amiga
"Quero morrer em ti
E em ti nascer de novo"!!
Belíssimo poema que eu ainda não conhecia...
Bjokass:)
belíssimo poema de amor à terra-ilha. Bj
Cara Ana,
Mesmo não sendo o Duarte a quem se destina essa oferenda, não posso deixar de comentar este post!
Que saudades tenho eu da minha ilha de paisagens sonhadas.
E dificilmente poderias ter escolhido melhor autor para a descrever.
Admiro profundamente a escrita de José Agostinho Baptista, embora tenha lido apenas dois dos seus livros.
Bjs madeirenses
Ana,
Li e reli o poema.É belíssimo. Não o conhecia. Agradeço-te o gesto, a dedicatória a simpatia personificada neste poema a mim dirigido. À Madeira de outrora, seguramente. Esta Madeira verte algumas lágrimas face à necessidade atroz que alguns tiveram de lhe usurpar a alma; de extorquirem das suas imponentes belezas, a harmonia com o mar, com a paisagem, com as montanhas. As memórias que um povo estoico e valente, benevolentemente, deixou às gerações de hoje, e que é nosso dever, transmitir à gerações de amanhã.
Um beijo
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