domingo, junho 12, 2005

Madeira


Foto de Rui Delgado aqui


Quero beijar os teus lábios de pedra,
a água azul e profunda onde os teus
seios sem mácula se unem às minhas
mãos,
quero fundir-me em ti,
minha doce amante do desejo antigo,
quero mergulhar nos cabelos húmidos das
tuas raízes,
quero subir lentamente o teu corpo frio,
fendido,
quero fazer em ti,
nos teus jardins inclinados,
um país de filhos belos, de animais de
silêncio e bondade,
quero regressar a ti,
ao mistério das levadas, das falésias,
dos ventos que batem nos pássaros de aço
e nas tuas tranças,
quero que me toques amorosamente com
os teus dedos esguios,
com as tuas canas doces,
quero o mel, a estrelícia, o pão escuro sobre
as mesas de toalhas loucas bordadas pelas
mulheres de outrora,
senhoras nossas das dores e do entardecer,
quero levar-te comigo para além, para
sempre,
quero que deixes em mim o fruto das tuas
árvores da alegria,
todos os sinais da ternura que o tempo não
consumiu,
minha eterna amante junto ao mar,
quero morrer em ti,
e em ti nascer de novo.


José Agostinho Baptista


(Para o Duarte , porque penso que gostará de ler (reler?) este poema que fala da sua terra de magia.)

7 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Descobri a Encosta do Mar há pouco tempo, mas é de facto um recanto poético muito agradável. Parabéns pelas tuas excelentes escolhas, Ana. Gostei deste poema em particular, pelo facto da Madeira ter um grande significado para mim...

Rute G.

11:13 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

Descobri a Encosta do Mar há pouco tempo, mas é de facto um recanto poético muito agradável. Parabéns pelas tuas excelentes escolhas, Ana. Gostei deste poema em particular, pelo facto da Madeira ter um grande significado para mim...

Rute G.

11:14 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

Da Madeira, apenas o ogre devia ser expulso. Então seria o paraíso.
Beijinhos minha querida amiga

11:10 da tarde  
Blogger Vênus said...

"Quero morrer em ti
E em ti nascer de novo"!!

Belíssimo poema que eu ainda não conhecia...
Bjokass:)

4:30 da manhã  
Blogger Conceição Paulino said...

belíssimo poema de amor à terra-ilha. Bj

12:49 da tarde  
Blogger DT said...

Cara Ana,
Mesmo não sendo o Duarte a quem se destina essa oferenda, não posso deixar de comentar este post!
Que saudades tenho eu da minha ilha de paisagens sonhadas.
E dificilmente poderias ter escolhido melhor autor para a descrever.
Admiro profundamente a escrita de José Agostinho Baptista, embora tenha lido apenas dois dos seus livros.
Bjs madeirenses

3:30 da tarde  
Blogger Duarte said...

Ana,
Li e reli o poema.É belíssimo. Não o conhecia. Agradeço-te o gesto, a dedicatória a simpatia personificada neste poema a mim dirigido. À Madeira de outrora, seguramente. Esta Madeira verte algumas lágrimas face à necessidade atroz que alguns tiveram de lhe usurpar a alma; de extorquirem das suas imponentes belezas, a harmonia com o mar, com a paisagem, com as montanhas. As memórias que um povo estoico e valente, benevolentemente, deixou às gerações de hoje, e que é nosso dever, transmitir à gerações de amanhã.
Um beijo

8:23 da tarde  

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