domingo, agosto 28, 2005

Podes?


Foto de Jose Luis Mendes aqui


Podes vender-me o ar que passa entre os teus dedos
E golpeia o teu rosto e desalinha teus cabelos?
Talvez possas vender-me cinco moedas de vento?
Ou mais, talvez uma tormenta?
Acaso me venderias ar fino - não todo -
O ar que percorre teu jardim de flor em flor
E sustenta o vôo dos pássaros?
Dez moedas de ar fino, me venderias?

O ar gira e passa na asa da mariposa.
Ninguém o possui. Ninguém!

Podes vender-me céu?
Céu azul por vezes, ou cinza, também às vezes,
Uma parte do teu céu, o que compraste, pensas tu,
Com as árvores do teu sítio, como quem compra o teto com a casa?
Podes vender-me um dólar de céu?
Dois quilómetros de céu, um pedaço,
O que puderes, do "teu" céu?

O céu está nas nuvens. Altas passam as nuvens.
Ninguém o possui. Ninguém!

Podes vender-me chuva?
A água que forma tuas lágrimas, molha tua língua?
Podes vender-me um dólar de água da fonte?
Uma nuvem crespa, me venderias?
Ou, quem sabe, água chovida das montanhas?
Ou água dos charcos, abandonada aos cães?
Ou uma légua de mar, talvez um lago?

A água cai e corre. A água corre. Passa.
Ninguém a possui. Ninguém!

Podes vender-me terra?
A profunda noite das raízes, dentes de dinossauros,
A cauda esparsa de longínquos esqueletos?
Podes vender-me selvas já sepultadas, aves mortas,
Peixes de pedra, enxofre dos vulcões?
Milhões e milhões de anos em espiral crescendo?
Podes vender-me terra?
Podes vender-me?
Podes?

A tua terra é terra minha, todos os pés se apoiam nela.
Ninguém a possui. NINGUÉM!



Nicolás Guillén
(em tradução brasileira)

8 Comments:

Blogger murmurio do silencio said...

Lindo Ana. A liberdade e os sentimentos nao se compram,damos e recebemos. um escritor uma vez disse " podemos comprar o amor, mas nao podemos obrigar ninguem a amar" a verdade é toda essa.


lindo o poema que escolheste,
é sempre um prazer vir a encosta.

beijo

12:25 da tarde  
Blogger hfm said...

Belíssimo.
Quanto ao filme -Morte em Veneza - um dos que tenho nos meus 10+

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Não conhecia o poema, as vezes sinto-me tão inculta...

Há coisa realmente que não se compram, que não são de ninguem e ao mesmo tempo são de todos.
Porque o ar, o ceu, a chuva, a terra pertencem a todos. Pelo menos a todos que sabem sentir ca dentro a natureza...

Sempre foi crente na natureza... em qualquer coisa indefinida de tão natural...

Um beijo

2:34 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

As coisas mais preciosas do mundo não se podem comprar. Este é um belo poema. Beijinhos, Ana

9:40 da tarde  
Blogger in_finito said...

Tanta coisa linda que não tem preço... :)

9:41 da tarde  
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