Arrojos
Se a minha amada um longo olhar me desse
Dos seus olhos que ferem como espadas,
Eu domaria o mar que se enfurece
E escalaria as nuvens rendilhadas.
Se ela deixasse, extático e suspenso
Tomar-lhe as mãos mignonnes e aquecê-las,
Eu com um sopro enorme, um sopro imenso
Apagaria o nome das estrelas.
Se aquela que amo mais que a luz do dia,
Me aniquilasse os males taciturnos
O brilho dos meus olhos venceria
O clarão dos relâmpagos nocturnos.
Se ela quisesse amar, no azul do espaço,
Casando as suas penas com as minhas,
Eu desfaria o Sol como desfaço
As bolas de sabão das criancinhas.
Se a Laura dos meus loucos desvarios
Fosse menos soberba e menos fria,
Eu pararia o curso aos grandes rios
E a terra sob os pés abalaria.
Se aquela por quem já não tenho risos
Me concedesse apenas dois abraços,
Eu subiria aos róseos paraísos
E a Lua afogaria nos meus braços.
Se ela ouvisse os meus cantos moribundos
E os lamentos das cítaras estranhas
Eu ergueria os vales mais profundos
E abalaria as sólidas montanhas.
E se aquela visão de fantasia
Me estreitasse ao peito alvo de arminho,
Eu nunca, nunca mais me sentaria
Às mesas espelhentas do Martinho.
Cesário Verde
(in O Livro de Cesário Verde)
.
Segundo o dizer de Fernando Pessoa, que muitas vezes ocupou a mesa do Martinho da Arcada representada na foto, Cesário Verde foi um mestre que "ensinou a observar em verso".
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15 Comments:
Viver nas ilusões da vida
é como cavalcar.
O movimento nos relaxa,
a paisagem escolhemos,
mas a longa distancia,
cansa entre as pernas.
Mas ainda assim voltaremos a cavalgar.
Por isso somos capaz de "abalar sólidas montanhas".
Que maravilho isso.
Bjs do sul do Brasil.
Uma imagem muito bonita. Traz-me saudade mas só se tem saudade daquilo que nos deixou marcas muito boas, inesquecíveis.
Quanto ao poema,um sujeito poético apaixonado por uma Laura que não lhe corresponde.
Apesar disso, muito bonito. Perpassado de amor/paixão.
Beijinhos, amiga!
Bem-hajas!
É fantástico como certos poetas têm esse dom de aplicar a simplicidade, versejando cada pormenor do dia-a-dia.
Lembras que Cesário nos "ensina a observar em verso"...
Basta ler e concluir, é verdade! E a sua poesia vai muito além porque alia essa facilidade com os sentimentos onde toda a gente se revê...
Querida Ana
E que belo é aquele recanto.
Um beijo
Daniel
lindo poema
bela foto
beijos
Que bom teres trazido Cesário verde aqui. Raramente o vejo. E é tão bonito de se ler...
Obrigada, Ana.
Beijinhos
*
cesario verde
lá continua,
na avenida da liberdade,
seguindo o deslizar dos cisne,
e continuando esquecido
nas escolas . . .
,
Nas nossas ruas, ao anoitecer,
Há tal soturnidade, há tal melancolia,
Que as sombras, o bulício, o Tejo, a maresia
Despertam-me um desejo absurdo de sofrer.
,
in-cesário verde,
,
*
as nossas escoelhas definem-nos, Ana. Cesário, é provavelmente um dos maiores poetas portugueses de sempre. infelizmente pouco divulgado. Adoro passar cá por casa, amiga. estás bem?
Beijos
a intensidade desta declaração amorosa!
um beijo, Ana.
Um poema que não conhecia.A imagem bonita.Beijinho Ana
Gosto de olhar pela janela e ver o dia de sol radiante que fez hoje e fará nos próximos dias...
Huummmm...tanto Amor e Paixão anda no ar; já com cheiro a Primavera o Amor vai começando a brotar dos corações de quem está enamorado.
Encontros e desencontros.
Sentimentos em efervescência.
Votos de boa semana.
NOTA: aviso que está patente ao público a minha 2ª exposição de fotografia, agora num Bar cá na Moita.
olhar com
olhos-de-estrelas
( melan
colica
mente,
beijo
~
um rio
[de candura]
no olhar
Querida Ana... Como Pessoa tinha razão!!!
Cesário Verde partiu muito novo e nunca lhe foi verdadeiramente reconhecido o seu talento! Há tanta gente menor alvo de homenagens, e Cesário - um dos maiores vultos da poética portuguesa - apenas é lembrado por pessoas como tu... que amam e vivem a Poesia!
Obrigado Ana! Foram deliciosos os momentos que me proporcionaste!
Um beijo
Se a saudade me rompesse a alma
Se queimasse de longo meu peito aberto
Saberia ter-te de novo, em maré calma
Perdida entre mim, que sempre me quedei perto
Se o silêncio quebrasse o teu olhar
Se cantasse um minuto que fosse a nossa estrada
Poderia adormecer aconchegado sem nunca acordar
Por entre a minha mão embriagada
Que na fuga do tempo somos pobres
No calor do coração amadores
Na vertigem, saltimbancos
No horizonte, cegos...
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