Atrium - (excerto)
Foto de Silenciosamente
(www.olhares.com)
(...)
________ hoje abri novamente a janela onde sempre me debruço e escrevi : aqui está a imobilidade aquática do meu país, o oceânico abismo com cheiro a cidades por sonhar. invade-me a vontade de permanecer aqui, para sempre, à janela, ou partir com as marés e jamais voltar ...
________ releio o que escrevi há doze anos, neste mesmo lugar : as canetas secaram, os lápis ficaram esquecidos não sei onde. as borrachas já não apagam a melancolia das palavras. a escrita que inventámos evadiu-se do corpo, o vazio devora-nos. onde estivémos este tempo todo? voltaremos a encontrar e a tocar nossos corpos?
________ não estás aqui mas vejo-te nítido quando uma pétala de bruma envolve a casa e adormece o desejo. um astro ininteligível e de órbita difícil guia-me, ilumina-te. pelas frestas de um espaço oco prescruto o eco do meu corpo, o silente medo de continuar vivo.
________ sento-me no cimo do meu próprio lixo e sorrio. espero que cheguem outros dias com algum sonho, ou destino, mais feliz.
Al Berto
(in À Procura do Vento Num Jardim D'Agosto)
Ainda em cena, até 5 de Abril, no Teatro Nacional D. Maria II, em Lisboa, A Noite , um espectáculo do Teatro O Bando, com base na poesia de Al Berto.
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14 Comments:
Al Berto, uma saudade que o tempo jamais apagará.Com a sua partida, prematura, todos ficámos mais pobres. Tinha tanto para nos dar!
Bem-hajas, amiga!
Ler-te é sempre um prazer muito grande.
Beijinhos
Bem-hajas!
Boa noite Ana!
Que lindo este poema.Hoje serviu como uma luva, para o meu dia.
Não conhecia, mas já vou pesquisar mais sobre Al Berto.
Gostaria de poder estar ai para assistir esta Peça.
Muito obrigada pelo presente.
Bjs
Um Poeta que partiu antes de tempo.
E com um enorme sofrimento...
Um beijo, Ana
Al Berto sempre Al Berto
num tempo que se imortaliza à nascença
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para ser presença constante
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um beijo meu
belo e sentido texto de Al berto!
também eu espero dias «com algum sonho, ou destino, mais feliz.»
beijo, Ana
Sempre ele sempre belo!
Que nunca percamos a vontade de abrir a nossa janela e debruçar-nos sobre o abismo do nosso eu, para que mais fácilmente possamos compreender os que nos nos rodeiam.
Perante este poema maravilhoso, podemos dizer que Al Berto não partiu, estará sempre connosco através da sua obra.
Obrigada a ti, que o trouxeste.
Beijinho.
é muito bom voltar ao teu blog, gosto daqui.
Maurizio
Silenciosamente...tento guardar as palavras de Al Berto.
Beijinho, Ana. Obrigada.
traço da noite bela
onde a lua se vai dizendo
vermelha
ocre
( ? a querer ocupar uma casa
maior
beijo
~
palavras
que
queimam
Querida Ana
Reflexões que se ajustam a diferentes veículos culturais, mostrando a grandeza da obra, da mensagem.
Um beijo
Daniel
dos textos mais lindos que li....extraordinário post, Ana. beijo e saudade.
Al Berto. Sempre
(encosta de murmúrios. gostei deste belo sitio)
abraço
iv
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