domingo, maio 31, 2009

Este é o Maio

Primavera (Sandro Botticelli)
Galeria Uffizi - Florença


Este é o maio, o maio é este,
Este é o maio e floresce.
Este é o maio das rosas,
Este é o maio das formosas,
Este é o maio e floresce.
Este é o maio das flores.
Este é o maio dos amores,
Este é o maio e floresce ...



Gil Vicente
(in Os Poetas Lusíadas)

A regressar, ainda de olhos e alma a florir.
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sábado, maio 23, 2009

O mar atinge-nos



Auto-retrato


O meu caminho é um barco sem memória.
O meu destino é o que o vento quer.
Há um rumor de velas
que o próprio mar devora.
O meu caminho é onde o mar estiver.



Maria Azenha
( no belíssimo cd - O Mar Atinge-nos - entre o rumor das palavras e os sons da guitarra)

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Vou estar ausente durante alguns dias. Voltarei com o olhar cheio de coisas belas.
Obrigada pela vossa presença aqui na minha encosta.
Até breve.
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quarta-feira, maio 20, 2009

Dispersão

Foto de Pierre Kessler aqui


Perdi-me dentro de mim
Porque eu era labirinto,
E hoje , quando me sinto,
É com saudades de mim.

Passei pela minha vida
Um astro doido a sonhar.
Na ânsia de ultrapassar,
Nem dei pela minha vida...

Para mim é sempre ontem,
Não tenho amanhã nem hoje:
O tempo que aos outros foge
Cai sobre mim feito ontem.

(...)

Desceu-me n'alma o crepúsculo;
Eu fui alguém que passou.
Serei, mas já não me sou;
Não vivo, durmo o crepúsculo.

Álcool dum sono outonal
Me penetrou vagamente
A difundir-me dormente
Em uma bruma outonal.

Perdi a morte e a vida,
E, louco, não enlouqueço...
A hora foge vivida
Eu sigo-a, mas permaneço...

... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ...

Castelos desmantelados,
Leões alados sem juba...

... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ...




Mário de Sá- Carneiro

Nasceu em Lisboa, em 19 de Maio de 1890

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segunda-feira, maio 18, 2009

Traduzir-se

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O poema fica ainda mais belo na voz de Adriana Calcanhoto e musicado por Fagner.
Obrigada, Pi.

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domingo, maio 17, 2009

Traduzir-se

Foto de Pedro Gomes aqui



Uma parte de mim
é todo mundo;
outra parte é ninguém;
fundo sem fundo.
Uma parte de mim
é multidão;
outra parte estranheza
e solidão.
Uma parte de mim
pesa, pondera;
outra parte
delira.

Uma parte de mim
almoça e janta;
outra parte
se espanta.
Uma parte de mim
é permanente;
outra parte
se sabe de repente.

Uma parte de mim
é só vertigem;
outra parte
linguagem.

Traduzir uma parte
na outra parte
_ que é uma questão
de vida ou morte_
será arte?



Ferreira Gullar

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quinta-feira, maio 14, 2009

As casas

Pintura de Maluda



As casas vieram de noite
De manhã são casas
À noite estendem os braços para o alto
fumegam vão partir

Fecham os olhos
percorrem grandes distâncias
como nuvens ou navios

As casas fluem de noite
sob a maré dos rios

São altamente mais dóceis
que as crianças
Dentro do estuque se fecham
pensativas

Tentam falar bem claro
no silêncio
com sua voz de telhas inclinadas



Luiza Neto Jorge
(in Terra Imóvel)

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segunda-feira, maio 11, 2009

Gota d'água - Chico Buarque

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Já lhe dei meu corpo
Minha alegria
Já estanquei meu sangue
Quando fervia
Olha a voz que me resta
Olha a veia que salta
Olha a gota que falta
Pro desfecho da festa
Por favor...

Deixe em paz meu coração
Que ele é um pote até aqui de mágoa
E qualquer desatenção, faça não
Pode ser a gota de água ...

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Depois de cinco espectáculos em Lisboa, a peça musical "Gota de água", de Chico Buarque e Paulo Fontes, vai continuar em digressão pelos palcos portugueses até ao fim de Maio.
Criada em 1975 , como adaptação da tragédia " Medeia " de Eurípedes à realidade brasileira, e agora com uma abordagem contemporânea e novos arranjos musicais, emociona o público pela sua carga poética.

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sexta-feira, maio 08, 2009

Ausência

Foto de Anke Merzbach



Por muito tempo achei que a ausência é falta.
E lastimava, ignorante, a falta.
Hoje não a lastimo.
Não há falta na ausência.
A ausência é um estar em mim.
E sinto-a, branca, tão pegada, aconchegada nos meus braços
que rio e danço e invento exclamações alegres,
porque a ausência , essa ausência assimilada,
ninguém a rouba mais de mim.




Carlos Drummond de Andrade

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terça-feira, maio 05, 2009

Epígrafe





As pontes multiplicam o cansaço. Porém, há duas margens para o deslumbramento _________ nas cidades felizes, é costume atravessar o rio sem lhe tocar.



Manuela Parreira da Silva
(in O Álbum de Vishnu)


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sexta-feira, maio 01, 2009

Livros e flores

Foto de Sophie Thouvenin



Teus olhos são meus livros.
Que livro há aí melhor,
Em que melhor se leia
A página do amor?

Flores me são teus lábios.
Onde há mais bela flor
Em que melhor se beba
O bálsamo do amor?



Machado de Assis
(in Falenas)

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