Foto de Jose Luis Mendes
aqui Podes vender-me o ar que passa entre os teus dedos
E golpeia o teu rosto e desalinha teus cabelos?
Talvez possas vender-me cinco moedas de vento?
Ou mais, talvez uma tormenta?
Acaso me venderias ar fino - não todo -
O ar que percorre teu jardim de flor em flor
E sustenta o vôo dos pássaros?
Dez moedas de ar fino, me venderias?
O ar gira e passa na asa da mariposa.
Ninguém o possui. Ninguém!
Podes vender-me céu?
Céu azul por vezes, ou cinza, também às vezes,
Uma parte do teu céu, o que compraste, pensas tu,
Com as árvores do teu sítio, como quem compra o teto com a casa?
Podes vender-me um dólar de céu?
Dois quilómetros de céu, um pedaço,
O que puderes, do "teu" céu?
O céu está nas nuvens. Altas passam as nuvens.
Ninguém o possui. Ninguém!
Podes vender-me chuva?
A água que forma tuas lágrimas, molha tua língua?
Podes vender-me um dólar de água da fonte?
Uma nuvem crespa, me venderias?
Ou, quem sabe, água chovida das montanhas?
Ou água dos charcos, abandonada aos cães?
Ou uma légua de mar, talvez um lago?
A água cai e corre. A água corre. Passa.
Ninguém a possui. Ninguém!
Podes vender-me terra?
A profunda noite das raízes, dentes de dinossauros,
A cauda esparsa de longínquos esqueletos?
Podes vender-me selvas já sepultadas, aves mortas,
Peixes de pedra, enxofre dos vulcões?
Milhões e milhões de anos em espiral crescendo?
Podes vender-me terra?
Podes vender-me?
Podes?
A tua terra é terra minha, todos os pés se apoiam nela.
Ninguém a possui. NINGUÉM!
Nicolás Guillén
(em tradução brasileira)